“Uma produção global pode nascer da Amazônia”: Gaby Amarantos fala sobre novo álbum Rock Doido e protagonismo do Norte
A cantora paraense revela que a Amazônia pode ser palco de uma produção global.
“O Brasil está preparado para o Rock Doido”. É assim que Gaby Amarantos define o momento em que lança um dos projetos mais ousados de sua carreira: um trabalho que une música, cinema, tecnologia e identidade cultural amazônica em uma única experiência imersiva.
Gravado integralmente em Belém do Pará, Rock Doido chega em duas etapas: o curta-metragem, com 21 minutos em plano-sequência, estreou no dia 28 de agosto no YouTube. Já o álbum, composto por 22 faixas contínuas, foi disponibilizado em todas as plataformas de áudio no dia 29.
Segundo a artista, o projeto representa um passo importante para a consolidação do tecnobrega, tecnomelody e da estética das aparelhagens paraenses no centro da música brasileira — com potencial para impactar também o cenário internacional.
“As pessoas diziam: ‘o Brasil não está preparado para isso’. Eu digo: está sim. Está na hora do país entender o movimento do Rock Doido, do tecnobrega, do tecnomelody, porque engloba tudo isso”, afirma Gaby.
Um processo coletivo e inovador
Em entrevista ao POPline, Gaby revelou que o trabalho nasceu de uma construção longa e colaborativa, envolvendo artistas, técnicos, bailarinos e produtores locais.
“É muita novidade, tecnologia e inovação. O resultado veio de uma força coletiva muito intensa. Desde o audiovisual agregado, a composição das músicas, a imersão nas aparelhagens… Foi um processo delicioso. É como se tudo já estivesse pronto para nascer. Então a gente só costurou e amarrou as ideias. O Rock Doido é uma grande parafernália”, detalha.
A proposta é romper com formatos convencionais. As 22 faixas do álbum foram pensadas como um set contínuo, sem pausas, remetendo à dinâmica das festas paraenses, onde os DJs conduzem horas de música sem interrupção.
“Rock Doido”: o filme
O curta-metragem, filmado em plano-sequência, percorre cenários emblemáticos da noite paraense, incluindo bares, festas e grandes aparelhagens. Para Gaby, Belém não é apenas locação: é personagem.
“Eu poderia gravar em São Paulo, mas pensei: tem que ser em Belém. Uma produção global pode nascer do Norte, pode nascer da Amazônia”, reforça.
O projeto mobilizou quase 300 pessoas no set, incluindo 150 bailarinos, técnicos e figurantes. Além disso, conta com participações de nomes importantes da música, como Viviane Batidão (Te Amo, Fudido), Lauana Prado (Não Vou Chorar), Gang do Eletro (Tumbalatum) e MC Dourado (Cerveja Voadora).
Segundo a artista, a estética escolhida buscou retratar a experiência real das aparelhagens:
“É uma história. E eu precisava mostrar como esse povo vive essa festa: o que veste, o que bebe, como dança. O Rock Doido é essa grande loucura. Quando percebemos que a sequência do álbum contava uma história, pensamos no plano-sequência. Quando contei isso para os diretores, a gente não dormiu mais! Foi um surto coletivo delicioso.”
A vanguarda que nasceu no Pará
O espetáculo visual e sonoro de Rock Doido aposta em pirotecnia, bazucas de CO₂, figurinos futuristas e cortes acelerados, mas, para Gaby, isso não é novidade para quem vive a cena paraense:
“Tudo isso que hoje é tendência no mercado, a gente já fazia há 20 anos no Pará. Música acelerada, cortes de DJs, explosão de efeitos… É parte da nossa cultura.”
A tradição de músicas curtas e dinâmicas também inspirou o formato do álbum, que flui sem intervalos, reproduzindo a sensação de estar em uma festa de aparelhagem.
Amazônia no centro do mundo
Com a proximidade da COP 30, que será realizada em Belém em 2025, Gaby acredita que o momento é estratégico para reafirmar a Amazônia não apenas como pauta ambiental, mas também como potência cultural:
“Quando a gente pensa em preservação da floresta, precisa entender que essa floresta é música, é sabor. Quanto mais as pessoas se conectarem com essa cultura, mais vão entender por que é necessário cuidar desse lugar. A música é uma ferramenta poderosa para engajar o mundo na defesa da Amazônia.”
Além disso, a artista destaca o amadurecimento da cena nortista:
“Estamos vivendo um momento incrível. Acabamos de ver o filme Boiuna ganhar três Kikitos de Ouro no Festival de Gramado. Novos artistas estão surgindo. A gente estava se preparando para esse tempo. Agora, a faca e o queijo estão na nossa mão”, afirma.
Com Rock Doido, Gaby Amarantos consolida sua trajetória como porta-voz da cultura amazônica, elevando o tecnobrega e as aparelhagens ao status de arte global. A obra é mais que um álbum: é um manifesto de identidade, resistência e inovação, mostrando que o Norte não é periferia — é centro, e o mundo começa a enxergar isso.
Com informações Popline



