Tonny Brasil: Pilar do Brega Paraense
Por Heber Gueiros
A recente partida de Tonny Brasil trouxe à tona a importância inestimável de sua contribuição para a música paraense. Poucos sabem que ele foi uma figura central em um movimento que revolucionou o brega paraense durante um período crítico de sua história. Relembrar essa trajetória é essencial para compreender seu impacto.
No final dos anos 80, o brega enfrentava um declínio sem o apoio da mídia, sobrevivendo graças às aparelhagens e sendo rotulado como “música de periferia”, apreciado principalmente pelas classes populares. A situação se agravou com a ascensão do Axé Music.
Nos anos 90, o Pará se rendeu ao ritmo baiano, deixando o brega de lado, esquecido tanto pelos artistas locais quanto pela imprensa e pelo público. Surgiram então em Belém os carnavais fora de época, as micaretas, como Carnabelém e Pará Folia, que dominaram a cena musical.
Até meados dos anos 90, o brega estava praticamente esquecido. A reviravolta veio em 1995, quando o brega “ressurgiu das cinzas” e voltou às paradas de sucesso. O marco dessa revolução foi o lançamento de dois álbuns de Roberto Villar: “A Nuvem” (1995) e “Ator Principal” (1996).
Essas produções contaram com músicos que se tornariam renomados no cenário local, como Chimbinha na guitarra e Tonny Brasil nos teclados. Especialmente “Ator Principal” trouxe inovações ao brega, como a aceleração do ritmo e a inserção de mais guitarras. Influenciado pela música caribenha, o brega ganhou mais swing e animação às danças, sendo rebatizado como Brega Pop ou Brega Calypso. Essa nova fórmula reconquistou o público paraense, incluindo a classe média de Belém, e recuperou seu espaço na mídia local, expandindo-se para outros estados do Norte do Brasil.
A partir desse momento, surgiram novos nomes no cenário, como Kim Marques, Wanderley Andrade, Alberto Moreno, Marcelo Wall e Banda Xeiro Verde, que começaram a se apresentar em programas de TV de projeção nacional. As rádios locais passaram a apostar no ritmo, com programas como Alô Belém (99FM), Brega Pai D’égua (Rauland) e Zuêra (Liberal FM). Empresários do entretenimento investiram em casas de shows temáticas, como A Pororoca, Xodó, Mauru’s e Kuarup.
Nos anos 2000, a popularização do computador e o domínio de novas tecnologias pelos artistas da periferia da Região Metropolitana de Belém inseriram o componente eletrônico na produção musical, surgindo o Tecnobrega. Tonny Brasil conquistou reconhecimento nacional ao ser considerado o pai dessa vertente do brega. Suas composições ultrapassaram as fronteiras do Pará, com destaque para “Cumbia do Amor”, regravada por Marília Mendonça, e “Dudu”, interpretada por Joelma.
Além dessas, muitas outras faixas alcançaram grande sucesso em todo o Brasil, especialmente com a banda Calypso. Ao longo de sua carreira, Tonny Brasil acumulou mais de 2 mil composições que moldaram a cultura paraense e hoje fazem qualquer ouvinte querer dançar e reviver lembranças nostálgicas.
Tonny Brasil não apenas contribuiu para a revitalização do brega, mas também ajudou a definir e expandir os limites do gênero, consolidando-se como um verdadeiro pilar da música paraense. Seu legado continua vivo e vibrante, celebrando a rica diversidade cultural do Pará.