A tão comentada crise de hospedagem que marcou a preparação de Belém para a COP 30 acabou não se confirmando na prática. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA), a taxa de ocupação dos hotéis durante o evento climático foi de 83%, bem abaixo dos 95% esperados pelo setor, mas ainda assim considerada positiva pelos empresários ― especialmente pelo faturamento acima da média.
“O faturamento compensou a taxa abaixo do esperado”, afirmou Antonio Santiago, presidente da ABIH-PA. “O balanço geral foi muito positivo para a hotelaria de Belém. Sem falar na cidade, que ganhou muito com o evento.”
Demanda inflada e oferta dobrada
No início do ano, Belém possuía cerca de 25 mil leitos disponíveis. A estimativa divulgada pela ONU era de que seriam necessários 50 mil, o que gerou uma corrida para ampliar a oferta. Novos hotéis foram construídos e navios-transatlânticos passaram a funcionar como hospedagem flutuante.
Para Santiago, porém, as projeções eram exageradas. Segundo ele, houve “no máximo” 25 mil participantes oficiais, incluindo chefes de Estado, delegados e comitivas, mais cerca de 15 mil jornalistas, voluntários e ativistas da sociedade civil.
“Os números da ONU estavam totalmente otimistas”, afirmou o dirigente.
Alta de preços e repercussão internacional
Antes da ampliação da oferta, os valores dispararam e provocaram repercussão mundial. Em agosto, uma pesquisa mostrou que a diária em hotéis simples de Belém durante a COP 30 podia variar entre R$ 28,7 mil e R$ 85 mil, com média que ultrapassava R$ 7,4 mil por noite. Em comparação, uma hospedagem no Copacabana Palace, no Rio, custaria a partir de R$ 47 mil no mesmo período — diferença de mais de 80%.
O aumento explosivo gerou queixas de delegações estrangeiras e até motivou, em setembro, uma recomendação do secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, para que as delegações da ONU reduzissem o número de integrantes, ampliando a participação virtual.
Com o avanço do evento e a chegada de novos leitos, o cenário se inverteu: muitos hotéis reduziram consideravelmente os preços na tentativa de atrair hóspedes.
Hotel símbolo da crise teve quartos vagos
O caso mais emblemático foi o hotel localizado na Campina, antigo Hotel Nota 10, que mudou de nome para Hotel COP 30 e viralizou ao elevar a diária em mais de 8.000%. Em agosto, o preço chegou a R$ 5.670 por um quarto duplo.
Durante a COP 30, contudo, o hotel ainda tinha vagas e reduziu o valor para R$ 900 — uma queda de 84% em relação ao pico da crise. Pacotes para grupos também estavam disponíveis: o “quarto família”, para até cinco pessoas, saía por R$ 2.000 a diária.
Há um mês, o mesmo quarto duplo havia sido ofertado por R$ 750, mostrando que, apesar da demanda do evento, o mercado não sustentou os valores estratosféricos praticados no início do ano.
Setor considera resultado positivo
Embora a taxa oficial de ocupação tenha ficado em 83% em Belém, a ABIH-PA afirma que a média estadual chegou a 95%, puxada por hotéis em municípios próximos e pela movimentação gerada nas rotas turísticas do Pará.
Para a entidade, o saldo final é considerado satisfatório, especialmente porque os hotéis conseguiram manter tarifas elevadas sem repetir o caos previsto no início da preparação para a COP 30.



