Faltando pouco mais de seis meses para a COP30, Belém já começa a se preparar para receber visitantes de diversos países. Uma das iniciativas que têm mobilizado moradores da capital paraense é o “Tacacá in English”, encontro que une gastronomia regional e prática de conversação em inglês. Criado pela professora Daiana Ramos, em parceria com o empresário Maurício Façanha, o projeto já reuniu mais de 150 pessoas no Ver-O-Açaí, no bairro do Umarizal.
“A ideia surgiu do desejo de criar um espaço acolhedor, onde as pessoas pudessem praticar inglês de forma espontânea, fora da sala de aula. Unimos isso ao tacacá, que é um símbolo nosso, para que o encontro tivesse a nossa identidade amazônica”, explicou Daiana. O empresário Maurício, dono do restaurante, conta que a iniciativa também surgiu da necessidade de preparar a própria equipe. “Eu já estava com a necessidade de preparar a minha equipe, e vi que um grande problema era que as pessoas tinham medo de falar inglês, de tentar se comunicar”, afirmou.
Segundo ele, hoje mais de 30% dos clientes do restaurante são estrangeiros. “Temos cinco funcionários que se comunicam muito bem em outros idiomas. Os demais sabem o básico para conduzir o cliente até a mesa, dar as boas-vindas e entregar o cardápio em outra língua. Mas a ideia é chegar em novembro com o inglês mais afiado”, disse Façanha.
A procura por aulas de inglês aumentou com o anúncio da COP30, segundo Daiana. “A maioria do público é formada por adultos que querem aprender ou destravar o inglês, muitos por motivos profissionais, outros por interesse pessoal. Temos recebido também participantes que já estão de olho na COP30 e nas oportunidades que o evento pode trazer”, contou.
Uma das participantes é a empresária Lívia Magno, que já tinha contato com o idioma, mas buscou se aperfeiçoar com a aproximação da conferência. “Entendo que é uma grande oportunidade de negócios e conexões internacionais e estar preparada para isso é fundamental. A COP30 me deu esse empurrão por entender que, para aproveitar tudo o que esse evento pode trazer, eu preciso me comunicar com segurança e naturalidade”, afirmou.
A participação no “Tacacá in English” custa R$ 25 e inclui o prato típico paraense. A organização informa que não é necessário ter inglês avançado. Os interessados podem obter mais informações pelo telefone (91) 99347-1315.
Setor de serviços busca alternativas para qualificação
O setor de transportes, bares, hotéis e restaurantes também enfrenta desafios para se preparar para a COP30. Segundo o presidente do Sindicato dos Motoristas por Aplicativo do Estado do Pará, Euclides Magno, muitos trabalhadores têm dificuldade de conciliar os estudos com a rotina intensa de trabalho. “A gente orienta a categoria a se qualificar, mas sabemos da dificuldade. Muitos motoristas precisam escolher entre estudar ou colocar o pão na mesa”, disse.
Para atender à demanda, o sindicato busca apoio do poder público para ampliar o acesso a cursos gratuitos. “O inglês é um diferencial para qualquer um. Mas imagine para o motorista que passa 12 horas por dia no trânsito? O desafio é enorme”, destacou. Hoje, a comunicação com turistas é muitas vezes feita por meio de aplicativos de tradução. “O profissional que quer, dá um jeito de atender. Mas ter um inglês básico seria ideal para melhorar a experiência do passageiro”, completou.
O setor de bares e restaurantes também tem buscado alternativas. De acordo com Fernando Soares, advogado do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Pará (SHRBS-PA), empresários estão preocupados com a preparação dos colaboradores. “O problema maior nem é falar, é compreender o que está sendo dito. Eu mesmo, que fiz sete anos de inglês, às vezes tenho dificuldade de entender minha própria nora, que é inglesa”, relatou.
A solução encontrada por alguns estabelecimentos tem sido contratar profissionais já fluentes em inglês para os horários de maior movimento. “Em horários de almoço e jantar, por exemplo, deve ter alguém que fale inglês com fluência para poder se comunicar melhor com os participantes da COP”, disse Fernando. Ele ressaltou que, além do inglês, outros idiomas devem ser comuns durante a conferência, como espanhol e francês.
Cursos gratuitos ampliam acesso à qualificação
Com a proximidade da COP30, diversas iniciativas gratuitas foram lançadas para preparar a população de Belém. Uma delas é o curso online do Grupo +Unidos, com 50 horas de carga horária e voltado a pessoas de 18 a 45 anos. As inscrições vão até 28 de abril, pelo site da organização, e as aulas começam em 19 de maio.
O Governo do Pará também criou o programa Capacita COP30, que pretende atender 22 mil pessoas até novembro. Mais de 10 mil alunos já foram qualificados em áreas como turismo, produção alimentícia, infraestrutura, segurança e idiomas, em parceria com instituições públicas e privadas.
A Escola Nacional de Turismo (ENTB), em conjunto com o Instituto Federal do Pará (IFPA), também oferece cursos presenciais e online em cidades como Belém, Santarém, Vigia, Bragança e Salvaterra. O quarto ciclo de cursos abrirá novas vagas de idiomas ainda este ano. As inscrições são feitas pelo site prosel.ifpa.edu.br.
“Eu tenho a convicção de que cada pessoa que se preparar e estiver pronta até o mês de novembro vai conseguir trabalhar na COP e ser bem remunerada por isso. E, certamente, com grandes perspectivas de seguir no mercado de turismo, que tem registrado todos os recordes de crescimento em nosso país”, afirmou o ministro do Turismo, Celso Sabino.



