Silvio Santos e Globo: como apresentador salvou a emissora da falência e se tornou um rival implacável
Silvio Santos foi uma figura central na história da televisão brasileira. Dono do SBT desde 1981, o apresentador teve uma relação conturbada com a Globo, a maior emissora do país. De salvador financeiro nos anos 1970 a rival implacável na guerra pela audiência, Silvio Santos deixou uma marca indelével na história da TV.
A história de Silvio Santos com a Globo começou em 1966, quando a emissora adquiriu a extinta TV Paulista, transformando-a em sua sucursal em São Paulo. Na época, Silvio já era um apresentador querido pelo público, e sua entrada na grade nacional da Globo em 1969 ampliou sua popularidade em todo o Brasil.
Curiosamente, Silvio não era um contratado comum da Globo. Ele pagava pela exibição de seu programa, que dominava os domingos com até dez horas de duração. Esse acordo financeiro, no entanto, gerou atritos com os diretores da emissora, Walter Clark e Boni, que queriam implementar o “padrão Globo de qualidade” e viam as atrações popularescas de Silvio como um desvio desse objetivo.
Apesar das críticas, Silvio Santos permaneceu na Globo graças a uma ordem direta de Roberto Marinho. Em 1971, Silvio emprestou dinheiro à emissora para que ela pudesse pagar os salários dos funcionários, evitando um atraso que poderia causar uma crise interna. Esse ato de generosidade garantiu a renovação de seu contrato por mais cinco anos.
No entanto, Silvio entendeu que sua posição na Globo era precária. Em 1972, pouco depois de renovar seu contrato, ele comprou metade das ações da Record, utilizando um laranja, Joaquim Cintra Gordinho, para contornar a cláusula contratual que o impedia de ser acionista de uma emissora concorrente. Quando a transação foi descoberta em 1976, Silvio deixou a Globo, encerrando uma era e iniciando uma disputa judicial que, no final, lhe foi favorável.
A partir desse momento, Silvio Santos se tornou um adversário a ser combatido. Em 1987, a Globo, cansada de perder para ele aos domingos, contratou Gugu Liberato, pupilo de Silvio e sucesso nas noites de sábado com o programa “Viva a Noite”. No entanto, ao descobrir que estava com câncer no início de 1988, Silvio Santos não hesitou em pagar a multa contratual e oferecer a Gugu um salário dez vezes maior para mantê-lo no SBT, onde ele continuou a liderar a audiência especialmente no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000.
A disputa entre Silvio Santos e a Globo alcançou seu clímax em 2001, quando o SBT lançou “Casa dos Artistas”, uma versão do reality show “Big Brother”. O programa, que substituiu anônimos por celebridades, foi um sucesso absoluto, alcançando picos de 54 pontos de audiência e se tornando o maior êxito da história do SBT. A Globo, que havia comprado os direitos do “Big Brother” e não havia assinado o contrato, reagiu com fúria, resultando em uma batalha judicial que proibiu o SBT de usar novamente o formato.
Nos últimos anos, a relação entre Silvio Santos e a Globo se tornou mais amistosa. Em fevereiro deste ano, por exemplo, o SBT, por ordem de Silvio, reprisou o desfile da escola de samba Tradição, realizado em 2001 em sua homenagem, sem liberação de imagens da Globo. Em vez de processar, a Globo optou por não tomar medidas legais, sinalizando uma trégua na rivalidade histórica.