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Série sobre Serra Pelada tornou Sebastião Salgado consagrado mundialmente

Fotógrafo eternizou a floresta, os povos e os contrastes da região com imagens em preto e branco que marcaram a arte documental contemporânea

Sebastião Salgado, que faleceu nesta semana aos 81 anos, fez da Amazônia não apenas um tema recorrente, mas a espinha dorsal de sua obra fotográfica. Com sua lente em preto e branco, ele revelou ao mundo a grandiosidade da floresta, a resistência de seus povos e os impactos devastadores da ação humana na região.

Um dos marcos dessa trajetória foi a série de imagens feitas em Serra Pelada, no leste do Pará, em 1985. O garimpo, considerado o maior a céu aberto do mundo, atraiu dezenas de milhares de homens em busca de ouro. Ao chegar ao local, Salgado ficou profundamente impactado. “Eu nunca vi nada parecido. Vi passar diante de mim, em frações de segundo, a história do humano, da humanidade, a Torre de Babel”, afirmou.

Uma das fotos mais icônicas dessa série foi incluída pelo jornal The New York Times em uma seleção com 25 imagens que definem a modernidade desde 1955. O jornal destacou a força visual da composição e a escala impressionante: milhares de homens — corpos curvados e frágeis — pareciam miniaturas diante da cratera imensa aberta na terra. O fotógrafo escolheu não incluir o horizonte, criando uma sensação sufocante, onde não se vê o fim daquela jornada exaustiva. “Só se ouvia o murmúrio de 50 mil pessoas dentro de um imenso buraco”, relatou Salgado. “Era como se eu ouvisse o murmúrio do ouro na alma de todos ali.”

No documentário “O Sal da Terra”, disponível na Globoplay, Salgado relembra: “As pessoas subiam e desciam 50 ou 60 vezes por dia, movidas pela esperança de encontrar ouro. À primeira vista, parecem escravos, mas não eram. Eram escravos apenas do desejo de enriquecer.” Todo tipo de gente buscou sorte em Serra Pelada — de intelectuais a trabalhadores rurais e urbanos. Quando alguém encontrava ouro, todos que participaram da escavação tinham direito a uma parte. “Todos tentavam a sorte”, contou.

Décadas depois, já consagrado mundialmente, Salgado voltou à floresta com outro olhar. Em 2021, lançou o projeto “Amazônia”, um registro monumental que levou mais de seis anos para ser concluído. A série reúne imagens aéreas, paisagens intocadas e retratos de indígenas de 12 etnias, todas feitas com sua assinatura inconfundível: o preto e branco de alto contraste, carregado de emoção e de denúncia.

O fotógrafo não apenas registrou a Amazônia — ele defendeu sua existência. Por meio de seu Instituto Terra, fundado ao lado da esposa, Lélia Wanick Salgado, atuou pelo reflorestamento da Mata Atlântica e pelo combate à destruição ambiental. Sua arte e seu ativismo se tornaram indissociáveis.

Para Salgado, a fotografia era ferramenta de transformação social. Ao retratar a floresta e seus habitantes, ele fazia mais do que documentar: elevava a Amazônia a patrimônio estético e ético da humanidade. “A floresta e seus povos precisam ser respeitados. A destruição da Amazônia é a destruição de nós mesmos”, disse em uma de suas entrevistas recentes.

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