Enquanto grandes sistemas de comunicação de Manaus conseguem se espalhar pela Amazônia Legal com relativa facilidade, o Pará permanece como a principal barreira para a consolidação dessas redes. Tentativas recentes mostram que, apesar do avanço de emissoras manauaras em outros estados amazônicos, o público paraense mantém forte resistência a conteúdos produzidos fora do estado e preserva uma identidade midiática própria.
Dois exemplos recentes evidenciam esse cenário: A Crítica e TV Norte.
A TV A Crítica, sediada em Manaus, tentou se instalar em Belém no início da década com retransmissora própria e programação regional voltada à Amazônia. Mesmo com investimento, a emissora não conseguiu se firmar no mercado paraense e acabou recuando. Agora tenta novamente entrar por meio de uma parceria local, atuando como afiliada com alguns programas produzidos em Belém — uma estratégia que reconhece a necessidade de conteúdo local para alcançar o público.
Já a TV Norte, também de Manaus e ligada aos Abravanel, domina o sinal do SBT em praticamente toda a Amazônia — menos no Pará. O SBT ofereceu participação acionária à afiliada paraense, que se tornou majoritária e manteve o controle da programação estadual. Com isso, a TV Norte ficou impedida de avançar sobre o mercado paraense, que historicamente responde melhor às produções locais de Belém do que às transmitidas de Manaus ou Porto Velho.
Outro caso simbólico é o da Amazon Sat, rede manauara parte da Rede Amazônica. A emissora nunca conseguiu se expandir para o Pará devido à forte presença histórica da TV Liberal, afiliada da Globo. Mesmo em meio à crise de 2019, a Liberal optou por se reerguer sozinha, mantendo o controle local em vez de aderir a um sistema sediado fora do estado.
Especialistas apontam que a dificuldade das redes de Manaus não é coincidência: o Pará possui um mercado de comunicação consolidado, competitivo e com forte sentimento de pertencimento regional. O público paraense tende a rejeitar conteúdos que não refletem sua cultura, seu cotidiano e sua forma de ver a Amazônia — algo diferente da matriz manauara, cuja narrativa costuma priorizar o Amazonas.
Essa resistência não significa rejeição à Amazônia, mas sim defesa da representatividade própria. Assim como acontece em mercados fortes como Pernambuco ou Rio Grande do Sul, o Pará valoriza emissoras que falem com voz própria e reflitam sua identidade.
Com isso, enquanto redes de comunicação de Manaus avançam sem dificuldade por boa parte da região, o Pará segue sendo o ponto fora da curva, preservando sua independência editorial e seu modelo regional de mídia.



