Os preços praticados em quiosques e barracas nas praias do Rio de Janeiro voltaram a chamar atenção nas redes sociais. Cardápios com porções simples ultrapassando facilmente a casa dos R$ 200, e pratos compartilhados chegando a R$ 400 ou mais, viralizaram nos últimos dias e provocaram reações de surpresa — e indignação — de moradores e turistas. O fenômeno, no entanto, está longe de ser novidade em áreas turísticas consolidadas e com forte apelo internacional.
O que chama atenção é o contraste no tratamento dado a situações semelhantes quando o palco é outro. Durante a preparação para a COP30, em Belém, críticas frequentes — muitas delas com tom xenofóbico — apontaram a capital paraense como “cara”, “improvisada” ou “incapaz” de receber um grande evento internacional. Restaurantes, hotéis e serviços locais passaram a ser analisados sob uma lupa que raramente é aplicada a cidades do eixo Rio–São Paulo.
No Rio, preços elevados em áreas turísticas costumam ser naturalizados como “custo da paisagem”, “lei da oferta e da demanda” ou parte da experiência urbana. Em Belém, práticas semelhantes são frequentemente tratadas como sinal de desorganização, atraso ou oportunismo, ignorando que a lógica do turismo, especialmente em áreas de alta circulação, funciona de forma parecida em qualquer grande cidade brasileira.
O debate revela mais do que uma discussão sobre valores: expõe desigualdades regionais e preconceitos históricos. Belém, assim como o Rio, é uma cidade complexa, com contrastes sociais, economia baseada em serviços, turismo e cultura, e desafios urbanos estruturais. Questionar preços é legítimo; desqualificar cidades e populações inteiras, não.
No fim, a comparação escancara um ponto central: o problema não é o preço do camarão ou da porção de peixe, mas quem pode cobrar caro sem ser questionado — e quem vira alvo de desconfiança quando tenta ocupar o mesmo espaço no circuito nacional e internacional.



