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Por que senadores do Amazonas estão interessados na divisão do Pará?

O projeto para criação do estado do Tapajós volta a ser discutido após 10 anos do plebiscito onde a população do Pará decidiu pelo não desmembramento do estado.

Nesta semana, o projeto de lei seria discutido na Comissão de Justiça do senado, no entanto, após um pedido de vista, a discussão foi adiada por mais 5 dias.

Na nova proposta, o novo estado do Tapajós ficaria com aproximadamente 43% do estado do Pará abrangendo 23 municípios, com as principais cidades sendo Santarém (capital) e Itaituba.

O projeto conta com apoio de 27 senadores, entre os quais os paraenses Paulo Rocha (PT) e Zequinha Marinho (PSC), este último, depois, pediu para retirar sua assinatura.

Chama atenção, no entanto, o empenho dos senadores do estado do Amazonas para criação do novo estado do Tapajós. O relator do projeto é Plínio Valério (PSDB), tendo Eduardo Braga (MDB) como principal articulador.

Eduardo Braga é velho conhecido dos paraenses, como governador do Amazonas conseguiu articular para que Manaus fosse sede da Copa de 2014. O lobby contou com recepção bem estereotipada do que é Amazônia, mas suficiente para encantar os velhos europeus que votariam a favor da capital amazonense depois.

Eduardo Braga, ironicamente, é nascido em Belém. Foi criado em Santarém, depois mudou-se para Manaus, onde se tornou político influente, alçando o governo do estado e hoje representante amazonense no senado.

“Sou filho de um brasileiro que nasceu em Santarém. Conheço Santarém desde os cinco anos de idade, todas as minhas férias eram em Santarém. Tenho portanto laços familiares e emotivos com a cidade. Conheço a economia do futuro Estado do Tapajós com muita profundidade. Esse estado não tem apenas riquezas minerais, esse estado hoje faz parte de uma das mais vigorosas fronteiras agrícolas do Brasil. O asfaltamento da BR 164 transformou o Oeste do Pará na nova fronteira agrícola do Brasil. O porto de Miritituba é um dos portos mais importantes da Amazônia brasileira, porque por lá escoa boa parte da soja do Mato Grosso e por lá também escoa boa parte dos componentes que vão para a zona franca de Manaus. Portanto, a produção de cacau, a produção agrícola, dá àquela região uma dinâmica econômica que evidencia desenvolvimento e prosperidade”, declarou.

Outro senador do Amazonas, Plínio Azevedo, reforçou os argumentos de Eduardo Braga. “Toda essa riqueza não chegam a esses municípios, que não têm estrutura nenhuma. Os hospitais de Manaus estão lotados desses munícipes. Essa gente quer compartilhar também dessas riquezas”, afirmou.

MANUTENÇÃO DA ZONA FRANCA DE MANAUS É O VERDADEIRO INTERESSE DOS SENADORES DO AMAZONAS – Muito mais que apontar os problemas da região Oeste do Pará, que existem sim, os representantes do Amazonas não conseguem olhar para o próprio umbigo. A pandemia escancarou a fragilidade dos serviços públicos do estado vizinho.

Não só isso, mostrou como o interior do Amazonas, diante da “macrocefalia urbana que se tornou Manaus”, é fragilizado e esquecido pelo governo do Amazonas. Se o Pará contém mais de 18 cidades com 100 mil habitantes e que servem de suporte para a capital, Belém, o Amazonas, por outro lado, gira em torno de Manaus.

Isso aconteceu por causa da Zona Franca de Manaus (ZFM), política de desenvolvimento para a Amazônia implementada pelo governo militar, com foco na indústria e sua concentração na capital do Amazonas, por outro lado, o interior daquele estado ficou esquecido e atrofiou, nem mesmo Parintins, apesar da população e da importância cultural, consegue ter o dinamismo econômico que se enxerga em outras cidades do interior Amazônico como Araguaína (TO), Castanhal (PA) ou Ji-Paraná (RO).

A ZFM fez Manaus crescer, ter importância e dividir com Belém a polarização na região amazônica. Esse modelo de desenvolvimento foi considerado trunfo dos amazonenses, como um modelo que não só gerou crescimento econômico, mas preservação da floresta amazônica, um contraponto, como eles costumam usar, ao modelo paraense, com foco na exploração mineral e na produção agropecuária, mas que trouxe diversos problemas ambientais.

A questão da ZFM sempre volta à tona, não só por sua ampliação e manutenção, ou em relação a tentativa de implementar o mesmo modelo em outro estado, que sempre encontra resistência e lobby contrário dos senadores do Amazonas (A Zona Franca do Marajó recebeu críticas no Amazonas).

A ZFM é uma vaca sagrada para o estado vizinho e, se depender deles, só o Amazonas terá esse modelo. Quem critica o modelo amazonense, que depende, fundamentalmente, de renúncias de outros estados, presentão do governo federal, automaticamente, se torna “persona non grata”.

E manter esse modelo é objetivo dos políticos Amazonenses, ou melhor, o principal objetivo. Conseguir ter mais 3 senadores, que só virá com a criação de mais um estado, e que ajude nisso é melhor para eles, ainda mais vindo de uma região que tem afinidades com o Amazonas

É, portanto, mais um passo importante para que o Amazonas consiga manter sua vaca sagrada intocada. É aí que entra o estado do Tapajós. No entanto, resta saber, se os representantes do Oeste do Pará estarão trabalhando pelo interesse da região ou pelo interesse do estado vizinho. Uma zona franca em Santarém, por exemplo, com certeza desencadearia reações contra no estado vizinho que enxergam, por si só, a Zona Franca como uma obrigação do resto do Brasil.

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