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Pessoas politicamente expostas e suas patéticas auto exposições

Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou, a toque de caixa, o PL 2.720 de autoria da deputada Dani Cunha, (União Brasil-RJ), filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que propõe tornar crime a “discriminação” contra pessoas politicamente expostas. Para fins deste projeto, entende-se como pessoas politicamente expostas aqueles políticos que são réus em processos judiciais em curso e condenados sem, contudo, trânsito em julgado. Segundo o projeto, aqueles que negarem a essas pessoas a abertura de conta bancária, concessão de crédito o ou qualquer outro serviço, estarão sujeitos a pena de reclusão de 2 a 4 anos e multa.

Não é piada!!

É curioso observar como a política no Brasil se envereda por caminhos cada vez mais inusitados e esquizofrênicos. Em 2020, aqui no Pará, presenciamos uma situação semelhante quando a Lei 9051/2020 foi sancionada, para logo em seguida ser vetada pelo governador Helder Barbalho. Essa lei, um verdadeiro atentado jurídico, previa como crime qualquer manifestação ofensiva a autoridades públicas, mesmo que a competência para criação de crimes e penas seja privativa da União. Uma aberração, sem dúvida.

Coitadinho do político!

Em meio a essa paisagem política caótica que parece ter saído de um filme de comédia como Dr. Fantástico do Stanley Kubric- em que os políticos tentam a todo custo se proteger- a popularização das campanhas políticas nas redes sociais, e inicialmente a um processo de “humanização” dos candidatos, parece ter descambado para uma busca desenfreada e carnavalesca por popularidade e conexão com o eleitorado que, por vezes, beira o ridículo.

Políticos não são influenciadores digitais, ou pelo menos não deveriam ser!

Nesta mesma semana, por exemplo, a Prefeita Patrícia , do município de Marituba, decidiu presentear seus seguidores nas redes sociais com um vídeo no qual realiza uma “dancinha”, descendo até o chão. Ao mesmo tempo, o Governador do Pará, Helder Barbalho, não quis ficar atrás e também postou um vídeo no qual recebe uma “surpresa” da primeira-dama no dia dos namorados. Famoso é o vídeo do Prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, tocando e cantando enquanto Belém padecia problemas crônicos de alagamentos e de coleta irregular de lixo.

Não me entendam errado, não quero dar uma aqui de “estraga prazeres”. Eu, por exemplo, adorei o vídeo da dancinha da Prefeita, afinal ela está em excelente forma e tem ritmo. Por outro lado, os políticos também têm uma vida particular como qualquer um, mas, é vidente que o ambiente das redes sociais pode propiciar uma hiperexposição. É claro, ninguém está obrigado a assumir essa postura, mas aqueles que optam por se expor dessa maneira, colocando-se em uma situação de auto vulnerabilidade, devem estar cientes de que estarão muito mais sujeitos a críticas e julgamento.

Diante desse cenário, é válido questionar até que ponto essa “humanização” dos políticos contribui efetivamente para uma melhor compreensão das questões políticas e para o exercício da democracia e cidadania. Afinal, a exposição exagerada muitas vezes apenas desvia o foco do debate de ideias e coloca em primeiro plano o espetáculo midiático.

Ora, mas em um país em que palhaços, apresentadores e ex-BBBs se tornam Deputados e Senadores, esperar o que? Estou convencido que não são os políticos que estão expostos, mas nós, eleitores, a este espetáculo mambembe e burlesco de vergonha alheia.

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