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Pastor de Tucuruí que associou autismo a “visita do diabo” é investigado pelo MP

Líder religioso usou discurso discriminatório em relação às pessoas com TEA e caso teve repercussão nacional

O pastor Washington Almeida, da Assembleia de Deus em Tucuruí, no Pará, está sendo investigado pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) após associar o Transtorno do Espectro Autista (TEA) a “ações demoníacas” durante uma pregação. O líder religioso afirmou que “o diabo está visitando ventres”, sugerindo que a incidência de autismo seria resultado dessas visitas.

O MPPA, por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Tucuruí, registrou uma notícia de fato e abriu um inquérito policial para apurar o discurso discriminatório do pastor. O caso ocorreu em 12 de julho, durante a celebração dos 90 anos da Assembleia de Deus no município. As declarações do pastor geraram indignação e foram amplamente condenadas por especialistas e organizações de defesa dos direitos das pessoas com deficiência.

Em resposta às falas do pastor, foi realizada uma reunião na Promotoria de Justiça de Tucuruí, no dia 17 de julho, com mães, pais e familiares de pessoas com autismo. Durante o encontro, foram discutidas informações, esclarecimentos e sugestões para a condução do caso. Uma nova reunião está agendada para o dia 19 de julho.

A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e Idosos (AMPID) também repudiou o discurso do pastor, destacando a ignorância e desinformação sobre o TEA. Em nota assinada pelo presidente, procurador de Justiça Waldir Macieira, a AMPID ressaltou que o autismo é uma condição de neurodesenvolvimento, caracterizada por déficits persistentes na comunicação e interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento.

O Ministério Público já solicitou a inclusão das mídias com as falas do pastor no procedimento investigativo, bem como o vídeo gravado posteriormente em que o pastor admite ter sido infeliz em sua declaração. A diretoria da Assembleia de Deus de Tucuruí também emitiu uma nota de esclarecimento sobre o incidente.

A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA) se manifestou publicamente por meio da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Autismo e da Comissão de Proteção aos Direitos das Pessoas com Deficiência. Em nota de repúdio, a OAB-PA destacou que tais declarações demonstram profunda ignorância e preconceito sobre o TEA, enfatizando a necessidade de respeito, empatia e compreensão em relação às pessoas com autismo.

O delegado de Polícia Civil João Paulo Benevenuto Machado, diretor da Delegacia Seccional de Tucuruí, informou que um inquérito policial já está instaurado para investigar os fatos. A OAB-PA reforçou que é fundamental que líderes religiosos e figuras públicas usem suas plataformas para promover a inclusão, o respeito e o conhecimento sobre o autismo, ao invés de disseminar desinformação e estigmatizar pessoas com essa condição.

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