Um estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG), em parceria com órgãos dos governos federal e estadual e entidades internacionais, aponta que o Pará pode receber até R$ 116 bilhões em investimentos até 2040 com a adoção de modelos produtivos sustentáveis. O levantamento considera sistemas baseados em paisagens regenerativas, que aliam recuperação ambiental e viabilidade econômica.
Segundo o relatório, até 8,8 milhões de hectares no estado têm potencial para serem convertidos para usos regenerativos com retorno financeiro positivo. Desse total, 6,8 milhões correspondem a pastagens degradadas e 600 mil hectares são indicados para sistemas agroflorestais com cacau — cultura que pode gerar R$ 33,4 mil por hectare em valor líquido.
O estudo projeta que mais de 80 mil agricultores familiares e cerca de 500 assentamentos podem ser beneficiados com a transição. A expectativa é de aumento de 1,7 vez na produção de gado e até 5,6 vezes na produção de cacau, tudo sem a necessidade de novos desmatamentos.
Arthur Ramos, diretor executivo e sócio do BCG, afirma que o volume de investimentos projetado não ocorrerá automaticamente e depende de quatro condições.
A primeira é a regularização fundiária. Atualmente, segundo o especialista, cerca de 25% das áreas registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) na Amazônia Legal não possuem titulação formal, o que gera insegurança jurídica, dificulta o crédito e compromete a rastreabilidade.
A segunda é o financiamento. Ramos explica que a transição apresenta fluxo de caixa negativo no curto prazo, o que exige crédito subsidiado e instrumentos de capital paciente. “Estimamos que 50% do volume necessário até 2040 terá que vir de crédito público com subsídio, 36% de crédito de mercado e 14% de capital concessionário”, detalhou.
Outro ponto é o fortalecimento da assistência técnica. “A maioria dos produtores quer adotar modelos sustentáveis, mas faltam profissionais capacitados para orientar o processo. Há carência de agrônomos, técnicos e extensionistas”, destacou Ramos.
Por fim, o estudo aponta a necessidade de sistemas robustos de rastreabilidade. “Sem monitoramento, mensuração, reporte e verificação (MMRV), os ganhos ambientais e sociais não se transformam em valor econômico”, concluiu o executivo.



