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Pará pode abrigar indígenas que nunca tiveram contato com outros humanos, dizem organizações

Vestígios encontrados em Ituna/Itatá, área protegida no sudoeste do estado, indicam a presença de povos isolados. Líderes indígenas pedem demarcação definitiva para garantir preservação do território.

Organizações indígenas e ambientais alertam que a Terra Indígena Ituna/Itatá, no sudoeste do Pará, pode abrigar povos isolados que nunca tiveram contato com outros seres humanos fora de suas comunidades. Os últimos vestígios encontrados — um casco de tartaruga caçada e uma vasilha de cerâmica — foram localizados há três anos e são considerados fortes indícios da presença desses grupos.

Com extensão comparável à da cidade de São Paulo, Ituna/Itatá é protegida desde 2011 por uma portaria que restringe o acesso e proíbe atividades que ameacem a floresta. A medida foi renovada em junho deste ano, mas lideranças indígenas cobram do governo federal novas expedições para confirmar a existência desses povos e a demarcação definitiva do território.

Relatos de moradores da aldeia vizinha Koatinemo, habitada pelo povo Asurini, reforçam a presença dos isolados. “Minha cunhada me disse: ‘Está ali, está ali!’ Era um rapazinho que me olhava de perto. Ele era pequeno, do tamanho de um pé de banana”, contou Takamyí Asurini, que afirma ter sido ferido no passado por uma flecha disparada por um indígena não contactado.

O Brasil reconhece 114 registros de possíveis povos isolados na Amazônia, segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Um quarto desses registros é confirmado, enquanto o restante, como o de Ituna/Itatá, ainda depende de estudos aprofundados.

Para lideranças locais, a lentidão do Estado ameaça não só esses povos, mas também a preservação ambiental da região. “Para nós, povos indígenas, não é preciso prova científica para reconhecer sua presença. Nós os sentimos na floresta, pelos sons, pelas marcas, até pelos cheiros”, afirma Mita Xipaya, ativista de 24 anos.

A situação em Ituna/Itatá é agravada pela pressão do garimpo e do desmatamento. Entre 2019 e 2022, durante o governo Jair Bolsonaro, a terra indígena chegou a ser a mais desmatada do Brasil, após a suspensão da portaria de proteção. Até hoje, áreas devastadas podem ser vistas em sobrevoos da região.

Com a conferência climática COP30 se aproximando — marcada para novembro de 2025 em Belém —, organizações indígenas pedem que o governo Lula avance na demarcação e proteção permanente da área. “A floresta está de pé porque os povos indígenas estão nela. Proteger esses territórios é proteger também o futuro do planeta”, afirma Toya Manchineri, coordenador-geral da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).

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