O Pará ocupa a pior posição no Brasil em relação à insegurança alimentar, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2023, divulgada pelo IBGE. O estudo revela que 20,3% dos lares paraenses convivem com insegurança alimentar moderada ou grave, o maior percentual entre os estados brasileiros. No Brasil, 7,4 milhões de domicílios enfrentam a falta de alimentos, afetando 20,6 milhões de pessoas.
A região Norte, que registra os índices mais alarmantes, concentra cinco estados entre os dez piores no país: Pará, Amapá, Maranhão, Amazonas e Roraima. Em contraste, Rondônia é o quarto estado com menor proporção de habitantes em situação de fome ou escassez alimentar, com 5,1%.
Desafios e desigualdades
Embora o Brasil tenha apresentado uma melhora geral nos últimos 20 anos, com a segurança alimentar atingindo 72,4% da população em 2023, a região Norte enfrenta retrocessos. Nos últimos dez anos, a insegurança alimentar moderada e grave somadas subiram de 14,4% para 16% dos domicílios na região.
A desigualdade racial e de gênero também está entre os fatores que agravam o problema. De acordo com a pesquisa, 59,4% das mulheres enfrentam insegurança alimentar em seus lares, contra 40,6% dos homens. Entre os pardos, o índice chega a 54,5%, enquanto apenas 29% dos brancos relatam o mesmo problema.
Ação governamental e realidade socioeconômica
Durante a 5ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Pará, realizada em Belém em outubro, a secretária Nazaré Costa destacou iniciativas do governo estadual, como o programa Avança Pará, que prevê um investimento de US$ 100 milhões no combate à fome. Apesar das promessas, os resultados práticos ainda não foram registrados.
A economista Lissandra Amorim Santos, autora de um estudo publicado no Caderno de Saúde Pública, aponta que a insegurança alimentar está diretamente ligada à baixa renda, mas outros fatores agravam a situação, como o racismo estrutural, a falta de acesso a alimentos saudáveis e as condições de trabalho das mulheres, que acumulam múltiplas jornadas.
O IBGE enfatiza que o abismo econômico continua sendo o maior obstáculo para reduzir a insegurança alimentar no país. Enquanto 46% das pessoas com ensino fundamental incompleto convivem com a fome, apenas 2,9% das que têm ensino superior completo enfrentam essa situação.
Para o Pará, superar o problema depende de políticas públicas efetivas, que combatam as desigualdades estruturais e garantam o acesso a alimentos de forma equitativa.