Pará é o primeiro estado do Brasil a incluir disciplina ambiental obrigatória em todas as escolas
Com foco na sustentabilidade, clima e saberes tradicionais, nova disciplina da rede estadual busca formar cidadãos ecológicos e críticos diante dos desafios da Amazônia e da crise climática global.
O Pará se tornou o primeiro estado do Brasil a adotar uma disciplina obrigatória voltada exclusivamente à educação ambiental em toda a rede estadual de ensino. Batizada de “Educação para o Meio Ambiente, Sustentabilidade e Clima”, a matéria integra o currículo desde o ensino fundamental até o ensino médio e tem como meta formar o chamado “sujeito ecológico” — expressão usada pelo professor Mauro Tavares, coordenador de Educação Ambiental da Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
“A disciplina adota uma visão crítica, contextualizada e transformadora. Queremos que o estudante não apenas identifique problemas, mas também proponha soluções”, explica Tavares, doutor em Ciências e professor da Universidade da Amazônia (Unama).
Atualmente, cerca de mil escolas da rede estadual já ministram a disciplina, envolvendo 4 mil professores de diferentes áreas do conhecimento. O ensino é interdisciplinar e pode ser conduzido por docentes de Ciências da Natureza, Geografia, História, Língua Portuguesa e até Artes.
De acordo com o Censo Escolar de 2024, 70% das escolas públicas brasileiras afirmam desenvolver atividades de educação ambiental, mas apenas 11% oferecem uma disciplina específica sobre o tema. O Pará se destaca por integrar o componente curricular a todas as etapas do ensino básico.
Currículo com foco amazônico
A disciplina incorpora o contexto regional da Amazônia, abordando saberes tradicionais, educação intercultural e os modos de vida sustentáveis das populações indígenas e ribeirinhas.
“Na Amazônia, educação ambiental também é aprender com os povos que vivem há séculos em harmonia com a floresta”, ressalta Tavares.
Os impactos socioambientais de grandes empreendimentos, como hidrelétricas e atividades extrativistas, são tratados de forma crítica, permitindo aos alunos analisar como decisões políticas e econômicas afetam a biodiversidade e as comunidades locais.
Formação por etapas
No 5º ano do ensino fundamental, o foco está na vivência e no aprendizado lúdico sobre natureza, água, solo e alimentação, com projetos práticos como hortas escolares e compostagem.
No 9º ano, os alunos aprendem a fazer uma leitura crítica da realidade amazônica, relacionando racismo ambiental, consumo e mudanças climáticas.
Já no 3º ano do ensino médio, o conteúdo enfatiza transição energética, economia verde e sustentabilidade, estimulando os jovens a desenvolverem projetos de pesquisa e soluções inovadoras para problemas reais.
A estudante Maria Eduarda Oliveira Cézar, de 15 anos, da Escola Estadual Oswaldo Cruz, em Capitão Poço, resume o impacto da nova disciplina:
“Aprendemos coisas que podemos aplicar na vida real, como plantar, cuidar da água e entender que o que fazemos hoje afeta o futuro das próximas gerações.”
A iniciativa coloca o Pará em destaque nacional, especialmente às vésperas da COP30, que será realizada em Belém em novembro de 2025.



