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MST ocupa Banco do Brasil em Belém para cobrar reforma agrária e crédito rural

Cerca de 400 integrantes do movimento protestam durante a Semana Nacional Camponesa; ocupação cobra agilidade na regularização fundiária e acesso a políticas públicas.

Cerca de 400 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) permanecem, nesta terça-feira (22), ocupando a sede do Banco do Brasil no centro de Belém. A ação, iniciada na segunda-feira (21), faz parte da Semana Nacional Camponesa, que promove mobilizações em diversos estados brasileiros com foco na retomada da reforma agrária e no acesso a crédito, assistência técnica e infraestrutura para famílias acampadas e assentadas, sobretudo na Amazônia.

O protesto ocorre em meio ao aumento da violência no campo e à lentidão na execução de políticas públicas voltadas à democratização da terra. Segundo dados divulgados pelo MST, mais de 100 mil famílias vivem acampadas no país, em condições precárias. Cerca de 65 mil delas aguardam há mais de dez anos pela regularização fundiária, sendo a maioria localizada na região Norte, onde a disputa por terras públicas envolve grileiros, madeireiras e grandes projetos agroindustriais.

Banco do Brasil é alvo da mobilização

A escolha do Banco do Brasil não é por acaso: a instituição é responsável por operacionalizar programas como o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), principal linha de crédito para pequenos produtores. Apesar da ampliação de recursos para o programa no atual governo, assentados e comunidades rurais denunciam dificuldades para acessar os benefícios, alegando burocracia, falta de técnicos e exclusão digital, especialmente em áreas remotas da Amazônia.

O MST também reivindica investimentos em infraestrutura básica — como estradas vicinais, energia elétrica, habitação e saneamento —, a ampliação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e a destinação de terras públicas improdutivas e griladas para assentamento de famílias.

Importância da agricultura familiar

Dados do Censo Agropecuário de 2017 indicam que a agricultura familiar representa 77% dos estabelecimentos rurais do país, mas ocupa apenas 23% da área produtiva. Ainda assim, é responsável por cerca de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros e emprega 67% da mão de obra no campo, o que evidencia sua relevância para a segurança alimentar e a economia local.

Apesar disso, o setor recebe proporcionalmente menos crédito que o agronegócio exportador. Na safra 2023/2024, por exemplo, o governo federal destinou R$ 77,7 bilhões ao PRONAF, enquanto o agronegócio teve acesso a R$ 364,2 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura.

Cobrança ao governo federal

O MST cobra maior agilidade do governo federal na execução de políticas para o campo. Em 2025, o orçamento previsto para aquisição de terras é de R$ 1,2 bilhão, montante considerado insuficiente para atender a demanda de famílias acampadas. O movimento também pede a reativação de programas como o de habitação rural, obras de infraestrutura em assentamentos e a implementação do Plano Nacional de Redução de Agrotóxicos (PRONARA).

“A ocupação do Banco do Brasil em Belém é parte de uma agenda nacional cujo lema é lutar por terra, crédito e dignidade no campo. Em um cenário de insegurança alimentar e crise climática, fortalecer a agricultura familiar é questão de soberania e de transição ecológica”, afirmou Pablo Neri, coordenador do MST no Pará.

Até o momento, o Banco do Brasil não se manifestou oficialmente sobre a ocupação. O movimento deve manter a mobilização até que haja abertura de diálogo com representantes do governo e da instituição financeira.

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