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Morre Tuíre, a guerreira Kayapó que parou a construção de Belo Monte com um facão

Aos 54 anos, a líder indígena deixa um legado marcado pela luta pelos direitos dos povos originários e pela preservação da cultura Kayapó.

A líder indígena Tuiré Kayapó Mẽbêngôkre, uma das maiores referências na luta pelos direitos dos povos originários no Brasil, faleceu neste sábado (10), aos 54 anos, em decorrência de um câncer no útero. Sua morte, ocorrida no Pará, foi amplamente lamentada por órgãos, instituições e figuras do movimento indígena, que destacaram sua importância e legado.

Tuiré ganhou destaque internacional em 1989, durante o Encontro das Nações Indígenas do Xingu, quando, em um ato de resistência, passou um facão no rosto do então presidente da antiga Eletronorte, simbolizando a resistência dos povos indígenas contra a construção de hidrelétricas em seus territórios. Esse gesto, no entanto, foi apenas um dos muitos momentos em que Tuíre demonstrou sua coragem e determinação.

Em nota, a Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa) afirmou que “o movimento indígena e o Brasil perderam uma das maiores lideranças do povo Kayapó”. A organização destacou que Tuíre foi “uma voz firme e poderosa na defesa dos direitos indígenas, sempre à frente das batalhas pela preservação da cultura e dos territórios de seu povo”.

Além de sua atuação em 1989, Tuíre foi pioneira no protagonismo feminino na luta indígena, liderando marchas e protestos em Brasília e organizando encontros que fortaleceram a presença das mulheres na defesa dos direitos de seus povos. Em 2022, Tuíre organizou um encontro de mulheres indígenas na aldeia Tekrejarotire, onde vivia, reunindo mais de 50 participantes.

Mydjere Kayapó, do Instituto Kabu, lembrou que Tuíre foi “a primeira cacica entre os caciques Kayapó”, enquanto Nhaktak Kayapó destacou o papel dela na continuidade da luta. “A Tuíre vem lutando pelo nosso direito, pela nossa cultura, pela nossa floresta. Agora está nos deixando. Nós vamos fazer o trabalho que ela deixou para nós”, afirmou Nhaktak.

A liderança indígena também preparou sua família para dar continuidade ao seu trabalho. Patkore Kayapó, sobrinho de Tuíre e presidente da Associação Floresta Protegida, ressaltou que ela deixou um exemplo para as novas gerações. “Ela deixou a luta para nós, para as novas gerações. Ela é uma pessoa guerreira, corajosa, deixou um exemplo para todos nós.”

Tuíre Kayapó deixa o marido Kôkôto Kayapó, o cacique Dudu, duas filhas e netos.

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