DENÚNCIANOTÍCIANOTÍCIASParáREGIONAL

Líderes religiosos tornam-se réus por escravidão em comunidade no Pará

Crianças e jovens impedidos de frequentar a escola, cartões do Bolsa Família retidos por líderes religiosos, pessoas submetidas a trabalho forçado sem remuneração nem direitos e castigos corporais aplicados com ripas de madeira marcadas com a palavra “Disciplina”. Essas são algumas das violações citadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) do Pará em uma ação contra nove líderes da Comunidade Lucas. A acusação inclui também uma empresa e duas associações registradas em nome dos réus, todos acusados de escravizar seus seguidores.

Denúncias e ação judicial

A Comunidade Lucas, localizada no município de Baião, no nordeste do Pará, tem sido alvo de denúncias desde sua fundação na década de 1990. O MPT busca uma indenização de R$ 5 milhões por danos morais coletivos e a regularização da situação trabalhista dos membros da comunidade, que ainda se mantém ativa. Atualmente, cinco líderes do grupo estão presos.

Tathiane Menezes do Nascimento, procuradora do MPT responsável pelo caso, expressou seu choque pessoal e profissional com a situação. “É uma situação que não só profissionalmente, mas pessoalmente, me chocou bastante”, afirmou.

Vida na Comunidade Lucas

A Comunidade Lucas foi fundada por um pastor evangélico com a promessa de uma vida comunitária baseada na partilha de bens e na comunhão da fé. No entanto, segundo a ação movida pelo MPT, a realidade era marcada por violências físicas e psicológicas diárias. Os membros trabalhavam como garçons, cozinheiros, na fabricação de móveis, confecção de roupas e produção de farinha, sem receber salário, sendo o trabalho classificado como “voluntário” para um suposto benefício coletivo.

Os líderes religiosos também retinham cartões de benefícios sociais e faziam empréstimos em nome dos membros. Crianças e jovens eram impedidos de frequentar a escola e submetidos a trabalhos forçados e doutrinação.

Testemunhos e abusos

Levy Sousa do Rosário, um ex-membro, foi levado para a Comunidade Lucas ainda criança e afirma ter sido submetido a trabalhos forçados e abusos. “Eu fui botado para caçar com arma de fogo desde criança”, relatou. Rosário também descreveu a utilização de ripas de madeira com a palavra “Disciplina” para punição e a incitação de violência entre crianças.

Rosário também afirmou ter sido ameaçado e espancado após manifestar o desejo de deixar a comunidade. Além disso, a ação do MPT acusa os líderes de exploração sexual de crianças e adolescentes, sob a justificativa de prepará-las para serem “boas esposas”. Aquelas que se recusavam eram ameaçadas, punidas e tinham o cabelo raspado.

Continuidade das atividades

Apesar das denúncias e processos, a Comunidade Lucas continua em funcionamento. A retirada dos moradores do local é um dos maiores desafios, conforme explicou a procuradora Tathiane Menezes do Nascimento. Muitos dos membros nasceram e cresceram na comunidade e não desejam sair.

Processo judicial

O MPT pede a condenação dos nove líderes em R$ 5 milhões por danos morais coletivos, além da regularização dos direitos trabalhistas dos membros da comunidade. O processo será julgado pela Vara do Trabalho de Tucuruí (PA) e corre em paralelo a uma ação criminal movida pelo Ministério Público Federal, que já resultou na condenação de cinco líderes religiosos.

Etiquetas

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar