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Japoneses transformam cacau de Tomé-Açu, no Pará, em ‘joia da Amazônia’

Com sistema agroflorestal e forte tradição nipônica, cacau cultivado em Tomé-Açu é reconhecido por sua qualidade e sustentabilidade, ganha selo de Indicação Geográfica e será apresentado na COP30 como exemplo de produção agrícola responsável na floresta amazônica

O cacau produzido em Tomé-Açu, município localizado a cerca de 200 quilômetros de Belém (PA), ganhou destaque internacional por aliar qualidade, tradição e sustentabilidade. Cultivado sob um sistema agroflorestal por produtores da colônia japonesa , o fruto foi transformado em um produto de excelência reconhecido como a “joia da Amazônia” e será um dos destaques brasileiros na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém, em novembro de 2025.

Localização de Tomé-Açu. Foto: Reprodução

A tradição do cultivo teve início com a chegada dos imigrantes japoneses há mais de 90 anos. Inicialmente voltados para o cultivo da pimenta-do-reino, os agricultores enfrentaram dificuldades a partir do final da década de 1960, quando uma doença fúngica chamada fusariose devastou as plantações. A crise, porém, abriu caminho para a diversificação agrícola e a implementação de sistemas agroflorestais, com destaque para o cacau, que se tornou o novo símbolo da produção local.

Diferente das monoculturas, o sistema adotado em Tomé-Açu intercala o cultivo do cacau com outras espécies nativas da Amazônia, como o açaí, a castanha e o taperebá. Essa técnica mantém o solo fértil, protege a biodiversidade, evita o desmatamento e oferece colheitas diversificadas ao longo do ano, fortalecendo a segurança econômica dos agricultores. É uma combinação que equilibra produtividade com preservação ambiental.

Em reconhecimento à qualidade e origem do produto, o cacau de Tomé-Açu recebeu, em 2022, o selo de Indicação Geográfica (IG) de Procedência (IP), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O selo reforça a identidade única do produto e abre portas para novos mercados. Segundo Fabiano Andrade, gerente do Sebrae no Pará, a certificação é um divisor de águas para os produtores da região.

“Todo o trabalho da Indicação Geográfica veio para abrir mercados e também para valorizar o produto que hoje é conhecido no Brasil e no mundo”, afirma Andrade.

O Sebrae tem atuado como parceiro fundamental nesse processo, oferecendo capacitação técnica, apoio na certificação, estruturação de negócios e inserção em mercados nacionais e internacionais. Em abril deste ano, o cacau de Tomé-Açu foi apresentado no Japão como parte da preparação para a Expo Osaka 2025. A participação brasileira na exposição é estratégica, já que em 2025 o país celebra os 130 anos das relações diplomáticas com o Japão, país que teve papel decisivo na formação agrícola e cultural de Tomé-Açu.

A expectativa é de que a presença na COP30 amplifique ainda mais a visibilidade internacional do produto, servindo de exemplo para práticas sustentáveis na Amazônia. “Vamos apresentar ao mundo o cacau como uma solução sustentável para a agricultura. É possível fazer agricultura na Amazônia de forma responsável, e os sistemas agroflorestais comprovam isso”, ressalta Andrade.

Hoje, além do tradicional chocolate, os agricultores e empreendedores locais diversificaram a produção com novos produtos derivados do cacau, como licor, manteiga, nibs (pedaços de grãos torrados) e até o “chá-colate”, feito a partir dos nibs. A estratégia agrega valor à produção e amplia a presença do cacau de Tomé-Açu em mercados de nicho e gourmet.

Ao saborear um chocolate feito com cacau da Amazônia, é possível perceber mais do que sabor: há também uma história de resiliência, tradição, inovação e respeito ao meio ambiente. Tomé-Açu prova que é possível empreender de forma sustentável, valorizando a cultura local e preservando a floresta.

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