CRIMENOTÍCIAS

Indígenas velam corpo de liderança Tembé morta pela PM em Capitão Poço e exigem justiça

Jovens indígenas fazem homenagem para liderança Tembé, que foi morta na última sexta-feira, 12, durante operação policial, em Capitão Poço, nordeste do Pará. Durante velório, o grupo de jovens que eram liderados por Isac Tembé Theneteraha, de 24 anos, cantou músicas na língua Tenetehara.

Isac Tembé tinha 24 anos e foi assassinado por policiais militares em Capitão Poço

Caso – De acordo com a Polícia Militar (PM), uma viatura foi acionada para verificar furto de gado em uma fazenda na zona rural do município de Capitão Poço. Segundo a polícia, assim que os agentes chegaram ao local foram recebidos com disparos de arma de fogo. Na troca de tiros, o grupo fugiu da área. A PM encontrou um gado desossado, um revólver e uma pessoa alvejada, o indígena Isac Tembé. Ele foi encaminhado até uma unidade de saúde, mas não resistiu o ferimento e morreu.

O Ministério Público Federal (MPF) enviou ofícios no sábado, 13, à Polícia Militar, à Polícia Federal, à Polícia Civil e à Fundação Nacional do Índio (Funai) em que são requisitadas informações sobre a morte do indígena.

A Polícia Civil informou que investiga o caso e já recebeu o pedido de informações do Ministério Público Federal. A Funai informou que está acompanhando o caso e está à disposição para colaborar com as investigações.

Em nota, a Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) informou que a diligência para averiguar o assassinato do indígena foi transferida para a próxima terça-feira, 16, a pedido das lideranças Tembé para garantir o cumprimento dos rituais de despedidas dos indígenas.

No domingo, dia 14, a Associação Indígena Tembé Das Aldeias Tawari e Zawaruhu publicou na nota pública de repúdio ao assassinato de Isac Tembé

Nota Pública do Povo Tembé-Theneteraha 

O coração do povo Tembé-Tenetehara sangra com o brutal assassinato do nosso jovem guerreiro Isac Tembé. A bala que lhe tirou a vida, com apenas 24 anos, atingiu a todos que desde tempos imemoriais habitamos essa terra e fazemos a permanente defesa da floresta e de nossos saberes tradicionais. 

O jovem Isac foi executado a tiros por policiais militares na noite da última sexta-feira, 12. Ele saiu para caçar depois de um dia de trabalho na construção de sua casinha para morar com sua família. Perguntamos: por que esses agentes da segurança pública servem de milícia privada para  fazendeiros que invadem terra indígenas? Por que chegaram atirando contra nossos jovens, filhos, netos e sobrinhos que caçavam, prática que faz parte da cultura de nosso povo? 

A Polícia Militar assassinou duas vezes Isac Tembé: mataram seu corpo e  tentam matar sua memória quando atacam a índole de nosso jovem guerreiro e liderança exemplar.

Isac era um cidadão honrado, professor de história, atuante na comunidade e na organização da juventude. Sua esposa está grávida e em breve dará à luz a mais uma criança Tembé, garantia da continuidade deste  povo originário. Jamais se envolveu em qualquer ato ilícito e nunca em sua vida portou ou disparou uma arma de fogo. 

Por isso, repudiamos como mentirosa a versão dos policiais militares, que alegam ter reagido a uma agressão a tiros. Somos um povo da alegria e da festa; um povo pacífico, ordeiro e cumpridor da lei. Exigimos das autoridades uma apuração rápida, transparente e rigorosa, a fim de identificar e punir os responsáveis por esse crime. 

Nosso território sofre diariamente invasões e ataques por parte de exploradores ilegais de madeira ou de fazendeiros que insistem em manter a ocupação de partes da Terra Indígena Alto Rio Guamá, através de cabeças de gado e de outras atividades econômicas. Há décadas lutamos contra essa violência e não vamos parar até que nenhum metro de nossa terra esteja ilegalmente ocupado. Não temos medo. A Constituição Federal protege nossos direitos e o Estado brasileiro precisa fazer cumprir o que manda a Lei maior. 

Apelamos às autoridades do Brasil e do mundo para que não nos deixem sós! 

Exigimos que Funai, MPF, Polícia Federal e todos os órgãos competentes venham até o nosso território e vejam o que passamos. 

Exigimos perícia no local do ocorrido. Exigimos resposta urgente pois não vamos nos calar e deixar que esse crime permaneça impune. 

Que a memória viva de Isac Tembé fortaleça nossa caminhada. Que o espírito dos nossos ancestrais guie o povo Tembé-Tenetehara em sua luta em favor da vida. 

Convocamos a imprensa e as autoridades para uma reunião pública, nesta segunda-feira, 15, às 10 horas, na aldeia São Pedro, Terra Indígena Alto Rio Guamá, ocasião em que o povo Tembé decidirá o caminho da luta em busca de justiça.

Exigimos justiça ! 

Punição dos assassinos e mandantes da morte de Isac Tembé !

Terra Indígena Alto Rio Guama, 14 de fevereiro de 2021.

Associação: Indígena Tembé Das Aldeias Tawari e Zawaruhu CNPJ 13.772.794/0001-53

Fonte: G1 Pará e O Liberal

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