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Indígenas exigem respostas das autoridades sobre o assassinato de Isac Tembé

Os povos da Terra Indígena Alto Rio Guamá, no município de Capitão Poço, região nordeste do Pará, publicaram na quarta-feira, 17, mais uma Nota Pública cobrando das autoridades paraenses repostas para o assassinato do guerreiro Isac Tembé, por policiais militares, o que fará uma semana na sexta-feira, 19, mas sobre o qual não se tem quaisquer respostas.

Veja a nota:

“Cinco dias após a brutal execução de nosso parente Isac Tembé, queremos saber:

1 – Quem da polícia executou Isac?

2 – Quem mandou a polícia executar Isac?

3 – Onde Isac foi executado?

4 – Cadê o documento de entrada e de saída do corpo de Isac da unidade de atendimento de saúde em Capitão Poço?

Essas são apenas algumas das perguntas que permanecem sem resposta. O povo Tembé também faz as mesmas perguntas que a imprensa tem nos feito dentro desses cinco dias de execução da nossa jovem liderança e professor de história, Isac Tembé, que saiu para caçar e voltou depois de mais de 24 horas morto dentro de um caixão.

Nunca o povo Tembé chorou tanto a morte de um parente como tem chorado a execução de Isac. A alegria de nosso povo de viver que se refletia em nossas danças e rituais sagrados foi tirada junto à vida de nosso menino sonhador. Nosso luto tem sido marcado pela dor cruel da impunidade, além da saudade. Nos sentimos acuados e sem proteção dentro de nosso território.

Tem sido muito doloroso fazer o encantamento do espírito de Isac para que continue entre nós e venha dançar em nossas festas, pois não estamos conseguindo lidar com sua partida repentina. Em nossa cultura não se pode interromper a vida de um jovem.

Aqui nascemos, nos tornamos crianças, jovens, adultos e anciãos; aí sim podemos virar encantados. Esse é o rito normal da natureza e da vida. Para nós, essa é uma condição natural e como todos os povos queremos ver nossa cultura valorizada e respeitada. O que dizer aos nossos jovens que estão profundamente abalados pela execução de uma de suas lideranças?

Queremos que o Estado brasileiro responda para nós o que não estamos conseguindo responder aos nossos jovens: por que a polícia que deveria guardar nossas vidas tirou a vida de um inocente?

Estamos em luto e cumprindo com o ritual sagrado de encantamento do espírito de Isac, mas não vamos deixar de lutar e cobrar justiça dos “homens” brancos. O povo Tembé tem justiça e sabe fazer justiça. A morte de nosso filho não ficará sem resposta e não caíra na impunidade reinante nesse país.

Terra Indígena Alto Rio Guamá, Capitão Poço, PA, 17 de fevereiro de 2021″

Investigações – Lideranças indígenas da etnia Tembé Tenetehar do Alto Rio Guamá mostraram toda a revolta e indignação durante a visita da Comissão de Direitos Humanos da Alepa, presidida pelo deputado Carlos Bordalo. O jovem Isac Tembé Tenetehar, 24 anos, foi assassinado por um policial militar do estado do Pará, na última sexta-feira, 12.

O corpo do jovem foi retirado do local pelos próprios militares, procedimento nada recomendado. A diligência, conduzida por Bordalo, contou com a presença da Ouvidora do Sistema Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (SIEDS), da advogada Maria Cristina Fonseca de Carvalho, de assessores da deputada Marinor Brito, membro titular da CDHDC-Alepa, e dos advogados Jean Brito e Antônio Carlos Jr.

A reunião teve ainda a presença do Conselho Missionário Indigenista e de membros da Coordenação Técnica da Funai em Belém.

Funeral – Os indígenas realizaram um ato com dança e cântico de despedida fazendo uma grande roda. Neste momento a emoção tomou conta de todos que estavam presentes. No centro colocaram uma blusa do grupo indígenas de jovens do qual Isac fazia parte.

A esposa Naiane Timbira Tembé, de 21 anos, grávida de seis meses, sentou-se ao lado e lideranças entoaram gritos de revolta, clamando por justiça. A comunidade indígena rejeita fortemente a criminalização que tem sido veiculada sobre o jovem e sustenta sua inocência com base na história e formação do jovem, que era professor de história e muito querido pela comunidade.

Em outro momento, os caciques e guerreiros cruzaram a cidade de Capitão Poço em carros, gritando palavras de ordem em homenagem ao jovem guerreiro assassinado.

Em seguida, todos foram em caminhada até o local onde aconteceu o crime cometido por um policial da polícia militar do Pará.

Fontes: blog Uruá Tapera e Estadão Conteúdo

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