Hospital de campanha no Centro de Convenções da Assembleia de Deus está há quase dois meses sem funcionar
Na última semana, a TV Liberal exibiu uma série de três reportagens sobre a Covid-19 na ilha do Marajó. O material jornalístico foi feito pelo fotojornalista Tarso Sarraf, que passou o auge da pandemia no arquipélago registrando a luta dos marajoaras contra o vírus.
O material de impacto escancarou o histórico abandono que os marajoaras enfrentam pelo poder público em todas as esferas governamentais. Cada reportagem trouxe a história de luta e sacrifício de profissionais de saúde para, com os recursos escassos disponíveis, atender a população local e dispersa em áreas remotas onde um médico pode estar a dias de barco.
Hoje um morador do município de Itaituba, no Sudoeste do Pará, acorrentou-se e faz greve de fome na frente do prédio do Hospital Regional do Tapajós, em protesto contra os atrasos na inauguração da unidade hospitalar. A região não tem um leito estadual para tratar pacientes com Covid-19.
Esses são dois exemplos dos problemas estruturais e históricos que passa o interior do Pará na área de saúde.
A Covid-19 avança pelos cantos mais remotos deste estado, tirando vida de pessoas nas cidades, em comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, reflexo de falhas e erros de estratégia do poder público.
Um exemplo dessa falha é o hospital de campanha construído no centro de convenções da Assembleia de Deus, em Belém. Com montagem iniciada no dia 01 de maio, no auge da pandemia do coronavírus na região metropolitana de Belém, até o momento o hospital não recebeu nenhum paciente com Covid-19.
Nesta quarta-feira, 08, o governo do estado anunciou que o hospital de campanha da Assembleia de Deus já está montando e servirá de retaguarda para o hospital de campanha do Hangar, uma vez que o Abelardo Santos voltará a atender outras especialidades.
O Hospital já está pronto e funcionará como retaguarda para o Hospital de Campanha instalado no Hangar, em caso de necessidade. No Hospital de Campanha da Centenário terá 240 leitos”, detalhou a Sespa.
Por meio de um vídeo publicado nas redes sociais pela Sespa, o secretário adjunto de gestão de políticas de saúde do Estado, Sipriano Ferraz, reforçou que este segundo hospital já está todo equipado. “Está totalmente pronto, de stand-by, para ser usado, caso necessário. Caso tenhamos uma segunda onda, temos já o local pronto para uso”, comentou.
O hospital de centenário iniciou no começo de maio. No dia 13 de maio, uma matéria na Agência Pará informava que a montagem do hospital estava em 80% e demoraria mais 10 dias para ser concluída.
“Nós esperamos que com esses novos leitos que estamos construindo, consigamos dar um maior auxílio à região metropolitana no enfrentamento ao novo coronavírus”, disse o então secretário de Saúde, Alberto Beltrame na época.
POLÊMICA DO ALUGUEL DO ESPAÇO DA ASSEMBLEIA DE DEUS
Além de nunca ter funcionado e atendido um paciente sequer, o hospital de campanha da centenário gerou polêmica sobre o aluguel do centro de convenções pelo governo do estado.
A polêmica ganhou as redes sociais e o governo do estado passou a ser bastante questionado, pois acreditava-se que a igreja teria cedido espaço gratuitamente.
Após muita pressão, o governo Helder Barbalho admitiu que o espaço seria alugado.
Na época do G1/PA fez uma matéria sobre esse assunto e um primeiro momento o governo do estado não passou informações. Depois admitiu o aluguel e revelou que o contrato seria de R$ 75 mil por mês.
Não há informações se o estado já está pagando a igreja evangélica, no entanto a estrutura já está lá há dois meses com a estrutura montada.
Ora, chama atenção que com uma estrutura montada e equipada não seria o melhor caminho levar a estrutura e distribuir para as regiões do interior do estado que estão sofrendo com a escalada das contaminações por Covid-19?
O governo prometeu construir novos hospitais de campanha em Soure, Redenção, Altamira, além desse na capital. Nenhum funcionou.
Deve ser revoltante para qualquer cidadão ver uma estrutura pronta para atender a população, mas obsoleta por capricho governamental, mais revoltante ainda para quem perdeu algum familiar para a Covid-19 porque esse familiar não teve pelo menos a chance de lutar pela vida devido a falta de leitos hospitalares.