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Greves, lixo e investigações da prefeitura do PSOL em Belém fustigam Boulos em SP

Os problemas enfrentados pela Prefeitura de Belém, única capital administrada pelo PSOL no país, como greves de servidores e acúmulo de lixo, fustigam o partido em sua tentativa de conquistar a Prefeitura de São Paulo com Guilherme Boulos (PSOL).

Em 2020, o PSOL elegeu apenas cinco prefeitos —Edmilson Rodrigues foi um deles. Ele já havia sido prefeito de Belém por dois mandatos, entre 1997 e 2004, quando era filiado ao PT. Professor universitário, também foi deputado estadual e federal.

Na sua atual gestão, servidores municipais da assistência social, professores e médicos entraram em greve, reivindicando ajuste de salário e pagamentos atrasados. A paralisação dos profissionais da saúde, em outubro, prejudicou o funcionamento de três UPAs na capital paraense.

Mais recentemente, as falhas na coleta de lixo têm gerado reclamação entre a população e preocupação por causa da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), evento que Belém vai sediar em 2025.

Em janeiro, a prefeitura apresentou uma nova empresa contratada por meio de uma PPP (parceria público-privada) para coletar o lixo, varrer as ruas e implantar um novo aterro sanitário. A promessa é a de que a situação seja normalizada em até 90 dias.

A má avaliação da gestão de Edmilson pode ser explorada na campanha paulistana para descredibilizar a capacidade de administração do PSOL e atingir Boulos, de acordo com integrantes da equipe do principal rival, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) —que já levantam informações sobre a situação em Belém. O governador do Pará, Helder Barbalho, é do MDB.

O vice de Edmilson, Edilson Moura, é do PT —dobradinha que vai se repetir em São Paulo com Boulos e Marta Suplicy, que voltou a se filiar ao PT na última sexta-feira (2).

No campo bolsonarista, Edmilson também é um meio para criticar o PSOL. O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) publicou em 12 de janeiro um vídeo do prefeito sendo vaiado. “Sempre que o PSOL ganha uma prefeitura, é assim o resultado: indignação e revolta por tanta incompetência e promessas impossíveis de serem cumpridas”, postou.

Mesmo entre os integrantes do PSOL, Edmilson é alvo de fogo amigo. “O PSOL já administra uma prefeitura, que é a de Belém. Eu, honestamente, quero que Boulos faça uma prefeitura como a de Luiza Erundina […], que organiza a base, que aposta em medidas radicais e estruturais. E não como a de Edmilson, que infelizmente, é um dos prefeitos com uma das piores avaliações do país”, disse a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) em um evento do partido no ano passado.

Neste ano, Edmilson deve concorrer à reeleição tendo como principal adversário o deputado federal bolsonarista Delegado Éder Mauro (PL-PA). Ao se eleger em 2020, com 51,76% dos votos, o candidato do PSOL derrotou outro bolsonarista, Everaldo Eguchi, que terminou com 48,24%.

Em 2016, quando exercia o cargo de deputado federal, Edmilson foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa em uma ação que se refere à sua primeira passagem pela prefeitura.

A decisão considera ter havido desvio de finalidade nos gastos com verba que deveria financiar a educação, além da não entrega de livros didáticos.

Edmilson recorreu, e o processo ainda está em andamento. Na época, o diretório do PSOL em Belém afirmou que a sentença era “equivocada” e que fora emitida “12 anos após o fim da gestão de Edmilson e às vésperas do período eleitoral”.

A mulher de Edmilson, Nayra Rossy Santos, é alvo de um inquérito instaurado pelo Ministério Público do Pará em maio de 2023 para apurar se ela acumulava cargos públicos —de professora municipal, de diretora-geral na Secretaria Municipal de Administração e de integrante do conselho de administração de uma estatal em que o município de Belém é acionista majoritário.

Ela assumiu os dois últimos cargos durante um período da gestão de Edmilson, segundo a apuração.

A Prefeitura de Belém passa ainda por problemas financeiros devido à queda de arrecadação, fator que contribui para a insatisfação dos servidores que entraram em greve.

Em outubro de 2023, a paralisação de médicos durante cinco dias teve como motivo o atraso de salários de aproximadamente 140 profissionais desde julho por falta de repasses da prefeitura às organizações sociais que gerenciam as UPAs.

Ainda em relação ao serviço médico, o Ministério Público do Pará chegou a ajuizar uma ação civil pública contra a prefeitura, em dezembro de 2022, porque uma cooperativa de cardiologistas suspendeu o atendimento ao SUS por falta de pagamento do município –havia 186 pacientes na fila para cirurgia.

A greve de servidores da Fundação Papa João 23, entidade responsável pela assistência social, reivindicava 5% de reajuste salarial. O sindicato informou à época que todos os cerca de 600 servidores efetivos aderiram à paralisação.

Houve ainda, em abril e maio de 2022, paralisação dos professores municipais. Nesse episódio, Edmilson foi criticado por veículos de esquerda por supostamente ter cortado 24 dias de salários dos professores grevistas.

Procurada pela Folha por email, a Prefeitura de Belém não respondeu até a publicação desta reportagem.

O PSOL, por meio de nota, afirma que “a Prefeitura de Belém optou por resolver de maneira definitiva o tema do lixo, que não se iniciou na gestão Edmilson”, e “abriu uma licitação que nunca houve na história da cidade, onde só havia contratos emergenciais de até um ano”.

O partido diz que Belém e São Paulo têm perfis “geográficos, demográficos e socioeconômicos distintos”. “Belém tem uma realidade financeira muito diferente da encontrada em São Paulo, que possui problemas que poderiam ser resolvidos não fosse a incompetência do atual prefeito, que nem sequer cumpre seu estreito plano de metas, mesmo com R$ 30 bilhões em caixa.”

A nota afirma ainda que o PSOL “não tem vergonha de seus posicionamentos políticos nem de seus quadros e aliados”. “Já o atual prefeito finge que não quer fazer de São Paulo um polo de aglutinação da extrema direita, mas traz para a gestão políticos alinhados ao bolsonarismo, que legaram ao país nada além de miséria e morte e que agora se instalam na capital paulista”, completa.

Fonte: Folha de São Paulo

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