Entrei no curso de direito da UFPA 1992. A formatura deveria ocorrer em dezembro de 1996, mas foi adiada para 30 de abril de 1997. A razão do atraso foi a ocorrência de sucessivas e longas greves por salários, melhores condições de trabalho e, SEMPRE, a derrubada do presidente (primeiro o Collor, depois FHC).
Bandeiras vermelhas da CUT, do PCdoB e do PT estavam sempre presentes. A elas se juntaram outras, também vermelhas, do PSTU, do MST e outros movimentos, todos “se dizentes” democráticos.
A luta abstrata por um suposto “bem maior” sempre justificou o prejuízo suportado pela sociedade, notadamente alunos e pagadores de impostos.
Lembro que muitos professores tentavam “furar a greve”, mas eram “convencidos”, pela força do argumento ou da violência mesmo, a não insistirem.
As greves eram encerradas com algum ganho irrelevante e com o pagamento pelos dias parados.
Nesta semana a ADUFPA mostrou suas garras novamente.
Invocando o direito à vida e à saúde, e, supostamente, falando em nome “dos professores da UFPA”, anunciou que não retomará as atividades presenciais e que também não haverá aulas remotas.
Segundo a nota, o segundo semestre letivo de 2020 deve ser cancelado.
Na pauta de reivindicações, obviamente, está a derrubada do Presidente da República, Jair Bolsonaro.
É certo que o mundo sofre com a pandemia (adoecimento e perda de vidas) e com a crise decorrente da quarentena que acabou com milhares de empresas e empregos.
Com o estado gigante que temos, a carga tributária pesará ainda mais sobre os ombros daqueles que conseguiram, a duras penas, manter-se em atividade. Ideias de ressuscitar tributos (ainda que com outro nome – é o caso da CPMF) voltaram à tona.
O Judiciário deu a deixa para uma boa parcela da população, ao proibir a redução da jornada e salário de servidores públicos. É o caso dessa greve de professores da UFPA.
Não quero discutir a motivação da greve, obviamente política, mas o tratamento que será dado aos grevistas.
Em primeiro lugar, não creio que o posicionamento da ADUFPA reflita o pensamento majoritário da comunidade acadêmica.
Sendo assim, é fundamental que professores e alunos se manifestem publicamente contra a decisão. E mais: que ignorem a decisão e mantenham as aulas, ainda que remotamente (até para preservarem a sua integridade física).
Quanto aos grevistas, espero que o tratamento seja o adequado: o corte de salários.
Espero, ainda, que o Poder Judiciário, mostrando que não é cúmplice de mais esse atentado contra a educação, julgue ilegal a greve, abrindo portas para a instauração de procedimentos disciplinares.
Com alguma sorte, a UFPA poderá, finalmente, se livrar de peças que só criaram militantes esquerdistas que olham apenas para o seu próprio umbigo, agem por conveniência e profunda indiferença com o futuro dos milhares de estudantes que terão seu futuro – já difícil – ainda mais prejudicado.
Pregam revolução contra inimigos fictícios, mas o fazem com o emprego e salário garantidos, enquanto a sociedade sofre para pagar as contas, inclusive os tributos que custeiam a universidade dos grevistas.
O lema dessa gente, estampado em camisas com a foto de seu ídolo Che Guevara”, é “hay que hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”, mas bem que poderia ser: “Há que lutar e grevar, mas com estabilidade no emprego e salários garantidos.”
Bernardino Greco é advogado, ativista liberal e membro do Partido Novo. Veja mais em:https://linktr.ee/bernardinogreco