A Amazônia, berço de diversas frutíferas nativas de potencial comercial, tem agora uma nova aposta em destaque: a “golosa” (Chrysophyllum sanguinolentum). Originária do território de São Félix do Xingu, no sul do Pará, essa fruta tem conquistado os paladares com seu sabor exótico, doce e ácido.
Encontrada ao longo do rio Fresco, em São Félix do Xingu, a golosa também foi identificada no Amapá e Amazonas, de acordo com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Nas comunidades ao longo do rio Fresco, essa fruta é um alimento tradicional, parte da alimentação diária das famílias e muito apreciada, daí o nome “golosa”, que desperta a gula de quem a prova.
Além de seu potencial de mercado, a golosa apresenta outras qualidades ligadas às práticas agroecológicas. Sendo uma árvore nativa da Amazônia, pode chegar a 30 metros de altura, tornando-se uma excelente opção para recompor áreas degradadas, enriquecer sítios e pomares, recuperar matas ciliares e áreas de proteção permanente em rios e córregos. Atualmente, ela tem sido utilizada principalmente em Sistemas Agroflorestais (SAFs), consorciada com a cultura do cacau.
A golosa é uma das frutas apoiadas pelo programa Floresta de Valor, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal. O programa busca promover a autonomia econômica com base em boas práticas de manejo e gestão responsável dos recursos naturais.
Celma de Oliveira, coordenadora de projetos do Imaflora, destaca que a golosa é uma alternativa de renda para as mulheres em um mercado tão competitivo como o de polpas de frutas. O Imaflora trabalha em parceria com a Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas (AMPPF), a Emater e a Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu para ampliar a área cultivada e a capacidade de industrialização da fruta, além de obter a certificação para sua comercialização.
O engenheiro de alimentos Flávio Santos Silva conduziu pesquisas sobre as qualidades nutricionais da golosa, identificando seu potencial em proteínas, vitaminas e teores de açúcares. Os resultados estão prestes a ser publicados em uma revista científica, o que facilitará a obtenção de licenças para comercialização e transporte em larga escala.
No entanto, um dos desafios a serem superados é a localização dos “golosais” nativos, visto que cerca de 90% da produção está concentrada nas margens dos rios da região. Os agricultores competem com animais silvestres e enfrentam as cheias dos rios durante a safra. O trabalho para garantir o plantio da espécie em sistemas agroflorestais visa ampliar a produção de polpa e contribuir com a preservação ambiental.
A golosa, com seu sabor exótico e múltiplas aplicações na indústria alimentícia e gastronômica, é parte importante dos planos da Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas de São Félix do Xingu, composta por 55 famílias distribuídas em diferentes colônias. O grupo está investindo para expandir a etapa de industrialização, visando novos mercados além do Programa Nacional de Merenda Escolar.
Com sua atividade de processamento e consumo da golosa, a Associação de Mulheres busca aliar o crescimento econômico com a proteção da floresta, garantindo mais renda às famílias de agricultores e preservando as áreas naturais nas margens dos rios.