Exportações de ouro do Pará disparam quase 2.000% em 2025 e somam mais de R$ 1 bilhão até maio
Itaituba lidera a comercialização do metal, e crescimento é impulsionado pela alta do ouro no mercado internacional, aumento da fiscalização e mudanças regulatórias
As exportações de ouro não monetário no Pará registraram um salto de 1.963,4% entre janeiro e maio de 2025, alcançando US$ 204 milhões — o equivalente a aproximadamente R$ 1,04 bilhão, considerando a cotação média do dólar em R$ 5,10. No mesmo período de 2024, o valor exportado havia sido de apenas US$ 9,88 milhões.
Com esse desempenho, o Pará se consolida como o segundo maior estado exportador do setor mineral no Brasil, ficando atrás apenas de Minas Gerais. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Itaituba é destaque nas exportações
A cidade de Itaituba, no sudoeste paraense, concentrou a maior parte das exportações de ouro: foram US$ 188,5 milhões (cerca de R$ 961 milhões), tornando-se o principal polo de escoamento da produção estadual. De acordo com o Anuário Mineral Brasileiro de 2024, Altamira e Floresta do Araguaia também se destacam pelas reservas do metal.
Entre janeiro e março de 2025, o Pará exportou 1,72 toneladas de ouro semimanufaturado, totalizando US$ 127,07 milhões (R$ 648 milhões), segundo o Ibram.
Suíça lidera como principal compradora
A Suíça lidera o ranking de compradores do ouro paraense, com aquisições de US$ 171,5 milhões (R$ 874,6 milhões) e 2.236 kg líquidos. Em seguida aparecem Canadá, com US$ 15,1 milhões (R$ 77 milhões), e Estados Unidos, com US$ 14,9 milhões (R$ 76 milhões).
Alta cotação impulsiona mercado
De acordo com Julio Nery, diretor de Assuntos Minerários do Ibram, a cotação do ouro é um dos principais motores desse crescimento. “O preço da onça troy passou de US$ 2.669 em janeiro para US$ 3.289 em junho de 2025, o que representa uma valorização de mais de 23% apenas neste ano”, explica.
A diretora de Pesquisa do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues, reforça o impacto da valorização: “Em 2023, o grama do ouro valia R$ 312; em 2024, R$ 416; e agora, em 2025, já está em R$ 561. Isso estimula diretamente a extração”.
Combate à ilegalidade fortalece mercado formal
O avanço na exportação também é atribuído a medidas que dificultaram a comercialização ilegal do ouro. Entre elas, o fim da presunção de boa-fé no comércio do metal, exigência de nota fiscal eletrônica e rastreabilidade dos compradores pela Agência Nacional de Mineração (ANM).
“O novo cenário criou um ambiente mais seguro para o mercado legal”, afirma Nery, que destaca ainda a atuação de entidades como o Instituto Escolhas no monitoramento da legalidade da produção mineral no país.
Arrecadação cresce, mas benefícios não chegam à população
O Pará arrecadou R$ 1,2 bilhão com a produção mineral no primeiro semestre de 2025, sendo R$ 27 milhões apenas com o ouro. Cerca de 60% desse valor vai para os municípios mineradores, mas segundo Larissa Rodrigues, os recursos nem sempre se traduzem em melhorias concretas.
“O retorno social ainda é limitado. Falta investimento efetivo em áreas como saúde e educação, o que gera insatisfação e conflitos nas comunidades locais”, alerta.
Desafios ambientais e sociais persistem
Apesar dos avanços na governança, desafios ambientais e sociais permanecem. Larissa aponta a necessidade de proibir o uso do mercúrio — ainda presente na atividade garimpeira — e promover a recuperação ambiental das áreas degradadas.
Ela defende a criação de um sistema público e obrigatório de rastreabilidade da origem do ouro, para coibir o ingresso de ouro ilegal no mercado formal.
Setor impulsiona arrecadação, mas gera poucos empregos
Segundo o professor João Márcio Palheta, da UFPA, o crescimento do setor mineral impacta positivamente na arrecadação de tributos como a CFEM e o ICMS. No entanto, ele alerta que a mineração é intensiva em capital e gera poucos empregos diretos.
“É comum vermos aumento do trabalho informal e precarização nas áreas de extração”, afirma.
Palheta também destaca a vulnerabilidade econômica do Pará, cuja balança comercial depende fortemente da mineração. “Mais de 90% das exportações do estado vêm de minérios, o que torna a economia paraense sensível a oscilações do mercado internacional”, conclui.



