Escolas da Ilha de Marajó enfrentam falta de banheiro e água, revela pesquisa da Habitat Brasil
Saneamento básico é essencial para uma vida saudável e digna. Sem água potável e esgoto, muitas crianças morrem de doenças como diarreia e esquistossomose, além de haver muitas internações. Entre 2018 e 2020, mais de 9 mil crianças e adolescentes até 14 anos morreram no Brasil por falta de saneamento, segundo dados do SUS.
A situação é pior em áreas isoladas, como a Ilha do Marajó, no Pará, onde a maioria da população vive na zona rural. Apesar de sua beleza natural e riqueza cultural, a maior ilha fluviomarinha do mundo sofre com a falta de saneamento básico, especialmente nas escolas. Uma pesquisa inédita da Habitat para a Humanidade Brasil, divulgada nesta sexta-feira (21), inspecionou 398 escolas com até 50 alunos em 16 municípios da região.
Do total, 93% das escolas não têm água encanada, 60% não têm tratamento de esgoto (149 não têm nem banheiro) e 89% não têm coleta de lixo. Isso afeta mais de 15 mil crianças e adolescentes.
A ONG Habitat para a Humanidade Brasil foi escolhida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para levar saneamento às escolas. O projeto custará até 43 milhões de reais, sendo até 20 milhões de reais em recursos do BNDES e 23 milhões de reais que serão levantados com parceiros.
Ao longo do levantamento, a ONG constatou que esse déficit de saneamento, que inclui ainda a destinação adequada de resíduos sólidos e drenagem urbana, afeta não apenas a qualidade de vida, mas também o acesso à educação e à saúde (muitos jovens perdem dias de aula adoecidos em casa), e compromete a segurança de estudantes e profissionais, além de impactar negativamente o processo educativo.
Escolas mais compactas como as avaliadas, que recebem número reduzido de estudantes, localizam-se em comunidades isoladas, e buscam facilitar o acesso das crianças e adolescentes à educação. Apesar disso, observa Mohema Rolim, gerente Nacional de Programas da Habitat Brasil, a análise reflete a negação de um direitos básico que afeta negativamente o aprendizado, aprofundando ainda mais as desigualdades.
“Em muitas situações os estudantes precisam utilizar latrinas e beber água coletada diretamente dos rios e igarapés. São situações que contribuem para a disseminação de doenças. A ausência de banheiros ainda afeta a dignidade menstrual das meninas e as expõem a riscos desnecessários”, afirma.
O levantamento também encontrou 88 escolas nas quais a água para consumo humano não recebe nenhum tipo de tratamento e 126 escolas em que o tratamento da água para consumo humano é realizado com aplicação de cloro ou hipoclorito. Os pesquisadores também identificaram que 45% das escolas não têm acesso a energia elétrica.
Na ausência de banheiros, as unidades escolares recorrem ao uso de latrinas, geralmente encontradas em estruturas precárias de madeira próximas às escolas, sem um sistema adequado de esgoto, ou até mesmo escolas que não possuem sequer esse tipo de instalação. Os municípios de Chaves e Breves lideram a lista, com 48 escolas em cada localidade sem banheiros nas escolas vistoriadas. Das 249 escolas com banheiros, em 42 as estruturas foram consideradas totalmente inadequadas e em 119, parcialmente inadequadas.
O projeto da Habitat Brasil irá beneficiar 460 instituições com até 50 alunos e com déficit de abastecimento de água potável e/ou esgotamento sanitário da região. A execução do projeto será realizada em parceria com o Instituto Água e Saneamento, a Cáritas Brasileira Regional Norte II, a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu) e a Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (Fase).
Com informações portal Um só planeta



