POLÍTICA

Em live, PT e ditadores latino-americanos celebram 30 anos do Foro de SP

Para celebrar os 30 anos do Foro de São Paulo, o PT e a nata das ditaduras latino-americanas participaram de um debate online na terça-feira (28), em que não faltaram ataques ao imperialismo americano e à contribuição do capitalismo para a pandemia de coronavírus.

O evento reuniu os ditadores da Nicarágua, Daniel Ortega, e da Venezuela, Nicolás Maduro, além do líder do regime ditatorial cubano, Miguel Díaz-Canel.

Foi mediado pela dirigente petista Mônica Valente, secretária-executiva do Foro, que reúne 123 partidos de esquerda de 27 países da América Latina e do Caribe.

Apesar da presença estrelada, o debate teve audiência pífia, com menos de 800 visualizações até a tarde desta sexta (31) no canal do PT no YouTube, que o transmitiu conjuntamente com a Presidência de Cuba.

“Desde o seu surgimento o Foro demonstrou que eram factíveis novos objetivos de luta, de construir uma sociedade mais justa e com igualdade de oportunidade para todos”, disse Valente na abertura, após chamar Ortega, Maduro e Diáz-Canel de “companheiros”.

Criado em 1990 por inspiração do então ditador cubano, Fidel Castro, e do petista Luiz Inácio Lula da Silva, o Foro de São Paulo viveu seu auge na primeira década deste século, quando diversos presidentes de esquerda chegaram ao poder.

Nos últimos anos, perdeu influência com o refluxo da onda vermelha, mas continua sendo pintado como uma espécie de bicho-papão pela direita, sobretudo apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O Foro, segundo eles, seria uma perigosa ameaça comunista que justificaria a radicalização do discurso conservador.

No poder desde 2007, à frente de um regime que persegue de forma violenta opositores e a imprensa, o nicaraguense Ortega criticou o que chamou de abusos cometidos pelos americanos.

“Eles dizem que são os pais da democracia, mas são os pais do colonialismo, do imperialismo, do terrorismo, da violação dos direitos humanos dos nossos povos”, declarou, ao lado de sua mulher e da número 2 do regime, Rosario Murillo.

Após mandar “nosso abraço e nosso carinho para Lula, que está no nosso coração”, o ditador nicaraguense culpou o capitalismo pela pandemia.

“O capitalismo é o maior vírus, a própria essência do egoísmo e da maldade”, afirmou ele, que no início da pandemia tinha atitudes negacionistas, até explodirem os casos da doença.

Em sua fala, Maduro fez gesto de coraçãozinho com as mãos para o Brasil e atacou duramente Bolsonaro, a quem chamou de “uma desgraça para o povo do Brasil”.

“O que fez Bolsonaro pelo Brasil? Melhorou o Brasil? Juntou mais o Brasil? Como foi o manuseio da pandemia, foi um sucesso?”, alfinetou.

Oficialmente, a Venezuela registra 158 mortes, mas há suspeitas de que o número real seja bem maior.

Embora lidere um regime que prende e cassa opositores, Maduro pregou em sua fala a tolerância e o fim do sectarismo da esquerda.

“Devemos nos caracterizar pela inclusão, o debate plural, democrático”, afirmou o ditador, que chamou o Foro de São Paulo de “a grande força democratizadora da América Latina e do Caribe”.

Ele ironizou o fato de o grupo ser acusado de ter fomentado protestos de rua em diversos países latino-americanos no ano passado.

“Quiseram nos culpar pelos protestos no Chile, Peru, Colômbia, Brasil. Somos culpados de acordar os povos, despertar os povos”, disse.

Também rechaçou ser um ditador, ao dizer que “esta ditadura aqui faz eleições todos os anos, quase todos os semestres”.

A próxima, marcada para dezembro, renovará a Assembleia Nacional, hoje controlada pela oposição, que alerta para a falta de lisura no pleito. “Desta vez o povo não vai falhar, vamos ganhar a Assembleia Nacional de forma democrática”, anunciou.

Dirigente de Cuba, Díaz-Canel louvou o papel de profissionais de saúde de seu país no combate à pandemia e disse que esse sucesso estaria gerando reação nos EUA, que mantêm um bloqueio econômico à ilha.

“Enquanto milhares morrem todos os dias no império [os EUA], os atuais inquilinos da Casa Branca mantêm pressão [sobre Cuba] e recebem o apoio de seus lacaios regionais”, afirmou.

No cargo desde o ano passado, Díaz-Canel tem seus poderes limitados pela influência que a velha guarda comunista exerce no país. O ex-ditador Raúl Castro, por exemplo, ainda controla o partido e mantém forte ascendência sobre as Forças Armadas.

O país teve 87 mortes pela Covid-19, mas, segundo o dirigente, nenhuma delas de criança, médico ou profissional da saúde, o que ofereceria algum consolo.

“Nem as mais sofisticadas armas conseguiram acabar com a pandemia do coronavírus. Agora, se tornou mais visível e aterradora a real e desumana face do capital”, declarou.

Fonte Folha de São Paulo

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