Em 24 horas, dois episódios intensificam a rivalidade histórica entre Belém e Manaus
No último sábado, a Prefeitura de Belém revelou sua nova identidade visual, inspirada na Amazônia, e com o slogan “Belém – Capital da Amazônia: Tecnologia e Inovação. A cidade para todos”. Porém, o uso do título “Capital da Amazônia” ou “metrópole da Amazônia” já é alvo de uma disputa antiga entre Belém, no Pará, e Manaus, no Amazonas, que se proclamam, há anos, como as verdadeiras capitais da região.
A capital mais importante da Região Norte
Ambas as cidades atingiram seu apogeu durante o ciclo da borracha, período conhecido como “Belle Époque”, que se estendeu das últimas décadas do século XIX até o início do século XX. Naquele tempo, Manaus e Belém eram chamadas de “Paris dos Trópicos”, destacando-se como as primeiras cidades do Brasil a contar com iluminação elétrica.
Embora o embate tenha raízes profundas, o ponto de maior tensão ocorreu, certamente, em 2014, quando Manaus foi escolhida para sediar um dos jogos da Copa do Mundo de Futebol, enquanto Belém foi excluída. A disputa ganhou novos contornos em 2023, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita a Belém, declarou que o estado do Amazonas não tinha tanta tradição no futebol. Em tom de retratação, Lula afirmou: “Queria que este ato aqui se transformasse em uma espécie de desculpa pelo que aconteceu na Copa de 2014”. E, para aumentar a polêmica, o presidente completou: “Acho que o estado do Pará deveria ter sido a sede da Copa do Mundo, não o Amazonas”.
Enquanto Belém não foi escolhida para sediar o Mundial, a cidade conseguiu um grande feito ao ser escolhida para receber a COP30, evento da ONU sobre clima e meio ambiente, o que gerou ainda mais atrito com o estado do Amazonas. A escolha de Belém deixou os amazonenses irritados, culminando em uma campanha publicitária que exalta as qualidades do Amazonas.
Logo após a escolha, o estado lançou uma provocativa campanha publicitária com banners que foram espalhados pelos aeroportos do Brasil, destacando o slogan “Amazonas. Incomparável”. A campanha ainda menciona que o estado foi classificado pelo The New York Times como um dos 52 destinos imperdíveis para 2023.
Para intensificar a rivalidade, o IBGE recentemente colocou Belém como a única metrópole da Amazônia entre as 10 cidades mais influentes do Brasil, colocando Manaus para escanteio.
A castanha é do Pará
Neste sábado, durante sua participação no programa É de Casa, da TV Globo, o ator manauara Adanilo Costa foi corrigido ao vivo pela apresentadora Talitha Morete enquanto preparava uma receita. Ao se referir à castanha-do-Pará como “castanha da Amazônia”, Talitha imediatamente a corrigiu: “É castanha-do-Pará”, deixando o ator sem reação.
A castanha-do-Pará, nome tradicionalmente dado à semente que consumimos, remonta ao período em que toda a região amazônica pertencente à antiga província colonial do Grão-Pará. Embora a castanheira seja encontrada por toda a Amazônia, o nome faz referência diretamente ao estado do Pará, o que, por vezes, gera controvérsias e uma sensação de despeito entre os outros moradores da região, principalmente os amazonenses.
O incidente gerou uma onda de comentários na internet. Enquanto muitos internautas se indignaram com a fala do ator, diversos manauaras defenderam Adanilo Costa, considerando como correto o nome da castanha.
A ex-BBB paraense Alane Dias entrou na discussão e usou seus stories para reforçar a polêmica. “Eu amo castanha-do-Pará”, escreveu, destacando o nome do estado em caixa alta com direito a vídeo “pedagógico” no TikTok.
Em resposta, a TV afiliada da Rede Globo no estado do Amazonas começou o dia provocando os paraenses no X, antigo Twitter, chamando a castanha de Castanha da Amazônia.
Rivalidade antiga
Mas, engana-se quem acredita que a rivalidade entre amazonenses e paraenses começou com a Belle Époque, a Copa do Mundo, a COP30, a disputa pela castanha ou até mesmo com as tretas envolvendo as ex-BBBs Alane e Isabelle.
Essa “treta” é bem mais antiga e remonta ao século XIX, quando o governador do Grão-Pará dissolveu a Junta Governativa Provisória do Amazonas, frustrando a tentativa de criação de uma nova província autônoma. Esse ato gerou uma grande insatisfação entre os amazonenses, e desde então, a rivalidade entre os dois estados só cresceu.
O fato é que, ao longo dos anos, diversos outros acontecimentos alimentaram essa disputa, de tal forma que seria impossível cobrir todos em uma única matéria.