A história do jovem Artur Mesquita, de 15 anos, do município de Alenquer, no Oeste do Pará, viralizou nas redes sociais. O jovem subia em uma árvore no quintal da sua casa para conseguir acompanhar as aulas remotas durante a pandemia.
Foi dessa maneira que o jovem estudante conseguiu ter acesso à internet para ter as aulas, fazer atividades, baixar conteúdos e falar com os professores. Todos os dias, assim que a aula começava, ele ia para a árvore, onde o sinal de internet funcionava melhor.
Artur e o irmão procuravam por sinal de celular pela comunidade e, foi embaixo de uma mangueira, que eles perceberam que o celular tinha sinal. Ao subir na árvore, a intensidade aumentava cada vez mais. Artur e o irmão chegaram construir uma escada, um banquinho e até um suporte para o celular no alto da árvore.
A realidade de Arthur é a mesma de milhares de alunos do Pará, que tiveram que enfrentar desafios para continuar a estudar durante a pandemia de Covid-19. Apenas 3,8% das escolas paraenses da rede pública de ensino (municipal e estadual) forneceram suporte técnico para que alunos pudessem acompanhar aulas remotas durante o auge da pandemia de Covid-19 em 2020. É o que diz a síntese dos indicadores sociais de 2020 divulgado nesta sexta-feira, 03, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esses dados colocam o Pará entre os estados que menos auxiliaram alunos da rede pública durante o período mais crítico da pandemia, quando as aulas presenciais foram suspensas e o ensino passou a ser remoto, como acontece ainda, em parte, até hoje.
De acordo com o IBGE, no contexto internacional, o Brasil está entre os países com maior período de suspensão de aulas. Um total de 190 dias foram com escolas fechadas, sem atividades presenciais, por orientações de decretos estaduais. O Brasil ficou atrás somente do México, em escolas fechadas durante a pandemia.
Em 2020, 31% dos estudantes paraenses, no ensino fundamental e médio, não contaram com a disponibilização de atividades escolares para realização em domicílio. Foi a segunda maior proporção entre as 27 unidades federativas, somente Roraima esteve em situação mais desfavorável.
A diferença entre as redes pública e privada na adoção de aulas síncronas pela Internet com interação foi significativa e está provavelmente relacionada à menor presença de infraestrutura tecnológica no domicílio dos alunos da rede pública, diz o IBGE. Dessa forma, apenas 13,2% dos alunos paraenses da rede pública paraense tiveram aulas online com interação direta com o professor, o modelo que mais se aproxima de uma aula presencial.
Em contraponto, externando ainda mais as desigualdades sociais e econômicas, 71,5% dos alunos da rede particular do Pará, onde a maioria estão no percentual mais alto de renda, tiveram aulas online.
Nesse cenário de desigualdade e de desafios em infraestrutura, levando em consideração as condições de vida dos estudantes, a experiência educacional remota de maior qualidade depende do acesso à Internet e da posse de dispositivos conectados, como celulares, tablets, computadores ou notebooks. Tamanho de tela, capacidade de processamento e velocidade de conexão são também fatores relevantes para o devido acompanhamento das atividades escolares.
No entanto, a pesquisa do IBGE evidencia que apenas 3,8% das escolas públicas do Pará disponibilizaram algum tipo de suporte, como computador, notebook, smartphones etc, um dos menores percentuais do Brasil.