A diretora geral da Unimed Belém, Liane Alamar Nunes Rodrigues, anunciou sua renúncia ao cargo nesta quinta-feira (19/9), após um ano e oito meses de gestão. A decisão foi motivada por pressões da Unimed do Brasil e pelos desafios financeiros e administrativos que a cooperativa enfrenta.
Em sua carta de renúncia, Liane destacou as dificuldades que marcaram sua gestão, incluindo um fluxo de caixa comprometido e obrigações financeiras não cumpridas. Ela também ressaltou a necessidade de reestruturação interna e a revisão de fluxos operacionais para melhorar a eficiência da Unimed Belém, em meio ao aumento de demandas judiciais e ao impacto da ampliação do rol de tratamentos determinados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A situação financeira da cooperativa foi agravada, segundo Liane, pela inadimplência de beneficiários e pela falta de repasses da Federação Unimed Fama, o que impactou diretamente nos recursos da Unimed Belém. Além disso, a Unimed Brasil apontou graves irregularidades econômico-financeiras e administrativas na gestão da cooperativa, manifestando preocupações sobre um possível risco de intervenção fiscal e técnica por parte da ANS.
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A diretora também mencionou problemas internos relacionados ao Departamento Jurídico, que teriam resultado na rescisão de contrato com um dos escritórios externos e no pedido de demissão do gestor da área, que não foi acatado pelo Conselho de Administração (CONAD). Esse desalinhamento entre a diretoria e os órgãos administrativos foi citado como um dos motivos para sua saída, tornando o ambiente de trabalho “insustentável”.
Em sua carta, Liane mostrou sua frustração com a falta de sinergia entre os órgãos de governança da Unimed Belém, afirmando que se tornou impossível realizar uma gestão eficiente sem confiança e alinhamento entre os gestores. Ela encerrou sua mensagem reiterando seu compromisso com os princípios cooperativistas e desejando sucesso aos cooperados.
A renúncia ocorre em um momento delicado para a Unimed Belém, que enfrenta desafios operacionais e uma possível intervenção por parte da ANS. O futuro da cooperativa agora dependerá de uma nova direção que consiga resolver os entraves administrativos e financeiros deixados pela gestão anterior.
Leia a carta na íntegra:
Prezados (as)
Ao longo de um ano e oito meses, esta Diretoria Executiva, conduziu inúmeros desafios, entre eles, de gerir uma grande empresa com um fluxo de caixa comprometido, com compromissos diários para honrar e muitas obrigações de pagamentos vencidos.
Identificamos a necessidade de revisar e corrigir diversos fluxos internos, visando aumentar a eficiência operacional, assim como a necessidade de reestruturação de setores estratégicos à Cooperativa, para atender melhor às demandas crescentes. Tudo isso, somando-se a um cenário de ampliação do rol da ANS, relativos a terapias, medicamentos de alto custo e ainda, enfrentando um aumento nas judicializações para garantir tratamentos fora do rol, o que impacta diretamente nos nossos recursos financeiros e operações.
Destacamos também, o percentual a menor para aplicação dos reajustes de planos pela ANS em 2024, redução do número de beneficiários por inadimplência, assim como o não repasse dos valores devidos à Unimed Belém pela Federação FAMA, a qual mantemos o atendimento obrigatório de urgências e emergências, dos pacientes oncológicos, dialíticos e sob liminares. Nosso plano de contingência segue com entraves de operacionalização por falta de entendimento entre os órgãos CONAD e DIREX, os quais devem ter sinergia e um único objetivo que é a sustentabilidade da Cooperativa.
Para agravar o cenário, no dia 05/08/2024 recebemos a 1ª correspondência da Unimed do Brasil (Ofício PRES 102/2024) sinalizando o impedimento para atuação do Dr. Wilson Niwa como Presidente de nossa Cooperativa, na ocasião reunimos com o Escritório Gouvêa e Russo que é contratado da Unimed Belém, o qual orientou a Diretoria Executiva, em aguardar o posicionamento do CONAD acerca do assunto, com a narrativa de que não havíamos sido notificados pela ANS e que talvez nem ocorresse tal notificação.
No dia 11 de setembro de 2024 recebemos nova carta da Unimed do Brasil (Ofício PRES 254/2024), pontuando a gestão de 11 anos do Presidente e reiterando que o mesmo não deveria se manter no cargo, sob pena de serem tomadas medidas previstas no artigo 10 da Norma Derivada nº 011/10, inclusive relacionadas a perda do uso da marca Unimed. A DIREX convocou uma reunião extraordinária, com a presença do Jurídico Interno e novamente do Escritório Gouvêa e Russo, que esclareceu que essa Diretora Geral é a representante legal na Unimed do Brasil e perante a ANS, mas que segundo nosso estatuto, o afastamento do Dr. Wilson Niwa deveria ser feito pelo CONAD, considerando o modelo de Governança implantado na Cooperativa, o que não ocorreu até a presente data.
Gostaria também de compartilhar com os sócios que recentemente chegou ao conhecimento da Diretoria Executiva informações sobre fragilidades nos controles internos do Departamento Jurídico, referente a Resolução Normativa nº 518/2022, que diante das inconformidades apontadas, tendo essa Diretoria Geral determinado a rescisão de contrato com um dos escritórios externos e solicitado verificação documental acerca do assunto, conforme pode ser evidenciado em ata de reunião da DIREX de 27/08/24 e 03/09/24, além disso, solicitei a demissão do Gestor do Jurídico, visto que o mesmo é o responsável por fiscalizar a execução adequada do contrato, inclusive com reiterações desta diretoria em relação a gestão dos contratos terceirizados, quanto a mensuração da qualidade das entregas, considerando os critérios previamente acordados, não o fez de forma oportuna, considerando os reportes documentados a esta Diretoria, e conforme substancial documentação evidências e encaminhadas ao CONAD (CI DIREX 832/24). Como a Diretora teria confiança num gestor de um setor tão estratégico a está cooperativa, que precisa de mais de um ano de contrato para identificar “irregularidades”? O fato é que a solicitação do desligamento não foi acatada pelo CONAD, conforme fui surpreendida hoje ao receber a DC nº 36/24, evidenciando mais uma vez, o desalinhamento entre os órgãos da Alta Administração, quando um Diretor não pode deliberar com quem poderá trabalhar, sendo este cargo hierarquicamente subordinado a sua Diretoria Geral.
Diante de todo o exposto, venho por meio desta comunicar minha decisão em renunciar ao cargo de Diretora Geral da Unimed Belém, decisão esta que foi tomada após muita reflexão e tranquilidade, pois tenho a certeza que fiz o meu melhor, diante do que a mim foi permitido trabalhar e deliberar conforme minhas atribuições estatutárias.
Entendendo que se torna inviável uma gestão sem confiança em seus Gestores, pelos riscos que esta Diretoria teria que assumir, gerando um ambiente de trabalho insustentável e comprometendo a confiança e a transparência que são pilares essenciais para nossa Cooperativa. Acredito que, se torna muito difícil um Diretor eleito para trabalhar em prol da Cooperativa e de todos os Cooperados, tenha que se submeter a essas questões, que devem ser abordadas e resolvidas com urgência para que a Cooperativa possa ter UNIÃO e de fato GOVERNANÇA.
Reitero meu compromisso com os ideais cooperativistas e espero que minha saída possa servir como um ponto de reflexão para melhorias.
Agradeço a todos pela colaboração e apoio durante o período em que estive à frente de minhas responsabilidades.
Desejo sucesso e prosperidade a todos os cooperados.
Atenciosamente,
Liane Alamar Nunes Rodrigues Diretoria Geral
Unimed Belém Cooperativa de Trabalho Médico