Descoberta nova espécie de sapo no Pará
Quantas espécies vivem na Floresta Amazônica, a maior floresta tropical do mundo? A ciência registra a ocorrência de pelo menos 40 mil espécies vegetais, 427 mamíferos, 1.294 aves, 378 répteis, 427 anfíbios e cerca de 3 mil peixes . Mas pesquisadores provam que ainda há muito o que ser descoberto sobre a biodiversidade brasileira.
O grupo dos anfíbios, por exemplo, conta com um novo integrante: o sapinho-amazônico-do-garda. Exclusiva a Amazônia, a espécie foi descoberta em janeiro de 2015, mas só neste ano entrou oficialmente para a lista da fauna local. “O pesquisador Diego Santana encontrou indivíduos do sapinho durante uma expedição e, por conta de estudos anteriores do gênero, sabíamos que existia a possibilidade dessa população apresentar uma nova espécie ainda não conhecida para a ciência. Sequenciamos e analisamos o DNA de alguns exemplares e chegamos à conclusão da descoberta”, explica Sarah Mângia, uma das pesquisadoras responsáveis pelo trabalho.
Com menos de 2,5 centímetros, o sapinho-amazônico-do-garda é encontrado no folhiço da Amazônia Paraense, em locais próximos a riachos dentro da floresta. “Por enquanto sabemos que essa espécie só ocorre no município de Óbidos, no Pará”, diz.
De tons marrom-avermelhados, apresenta barriga branca e manchas escuras e é parecido com outras espécies do gênero. “Ela é geneticamente aparentada com Amazophrynella manaos e Amazophrynella teko. Podemos considerá-las espécies irmãs”, explica Sarah, que destaca ainda outras observações.
“Os estudos mostram que o anfíbio concentra as atividades no período da manhã, das 8 às 11 horas. Também notamos um comportamento de defesa muito comum para anuros, a tanatose: para evitar a predação o animal se finge de morto, geralmente com os olhos abertos e membros ‘soltos’”, completa.
O nome escolhido para a espécie é uma homenagem ao professor Adrian Garda, orientador do doutorado de Sarah e Diego, que contribuiu para a formação profissional e pessoal dos pesquisadores
Ainda não foi possível determinar o status de conservação e os hábitos alimentares da espécie, mas os pesquisadores coletaram informações sobre a reprodução. “Fevereiro compreende a estação das chuvas na região onde o sapinho foi encontrado. Como foi observada a presença de casais em amplexo – posição de acasalamento, isso pode indicar que a espécie estava em sua época reprodutiva. No entanto, não observamos machos em atividade de vocalização”, explica.
A bióloga e doutora em zoologia comemora a chance de descrever uma nova espécie para a ciência, junto aos colegas Ricardo Koroiva e Diego José Santana, mas ressalta uma preocupação. “Descobrir essa joia de dois centímetros no meio da Amazônia é mostrar para o mundo o quanto ainda não sabemos. Essa sensação de descoberta é uma mistura de esperança por encontrar espécies novas, mas também um pouco de desespero porque ‘o novo’ pode desaparecer antes mesmo de ser conhecido”, diz.
“Imagine quantas outras novas espécies vivem empoleirada nas árvores, se escondendo no folhiço e se reproduzindo em lagoas. Agora imagine essas espécies nas árvores que estão sendo cortadas, nos galhos que estão sendo queimados, nos locais onde antes eram lagoas e agora estão secos pelo alastrar do fogo em nossas florestas. Essas são espécies novas que não teremos chance de conhecer nem batizar”, finaliza.
Fonte G1