A Brasil Bio Fuels (BBF), até pouco tempo alardeada como uma das gigantes da produção de óleo de palma no Brasil, enfrenta seu colapso mais severo. Envolta em uma teia de dívidas estimadas em mais de R$ 2 bilhões, denúncias trabalhistas e suspeitas de conluios no setor, a companhia mergulha numa crise institucional que já atinge diretamente milhares de trabalhadores e compromete a estabilidade da cadeia produtiva do dendê no Pará.
Nos últimos meses, especialmente entre janeiro e julho de 2025, cerca de 6 mil trabalhadores foram desligados da empresa — muitos deles sem receber verbas rescisórias. Só na cidade do Acará, no final de julho, cerca de 500 funcionários foram demitidos de forma abrupta, segundo relatos de moradores e trabalhadores ao portal Ver-o-Fato. As consequências sociais se espalham por municípios como Moju, Concórdia do Pará e Tomé-Açu, onde a BBF tem suas principais operações.
A estimativa é de que a dívida trabalhista ultrapasse os R$ 150 milhões. Diversos trabalhadores denunciam que firmaram acordos de rescisão nunca cumpridos pela empresa. Sem respostas oficiais, com o presidente da BBF, Milton Steagall, em completo silêncio desde fevereiro, o drama avança enquanto comunidades inteiras enfrentam insegurança alimentar, adoecimento e risco de recrutamento por facções criminosas que atuam nas áreas de conflito fundiário.
Gestão sob suspeita
Steagall é sócio de destaque na companhia e figura em mais de 160 processos trabalhistas, fiscais e criminais, de acordo com dados do site Jusbrasil. Seu histórico empresarial carrega o peso da falência de outras empresas em 2017, e hoje é visto por críticos como reflexo da instabilidade atual da BBF. A diretoria da empresa também enfrenta acusações diversas, que incluem desde conflitos com comunidades indígenas e tradicionais até indícios de fraudes contratuais e desvio de produção.
Sem conseguir conter o colapso, a empresa tenta mudar o foco: acusa empresas do próprio setor de participarem de um suposto esquema de furto e receptação de frutos de palma. A denúncia foi formalizada em uma carta enviada à Abrapalma (Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma), na qual a BBF aponta que concorrentes estariam estimulando invasões de terras, furtando matéria-prima e financiando atividades ilegais em regiões de sua atuação.
Clima de guerra no Vale do Acará
No documento assinado pelo diretor administrativo da BBF, Eduardo Coelho, a empresa alega que facções criminosas passaram a ocupar áreas invadidas e a ameaçar trabalhadores e moradores locais. Boletins de ocorrência e notificações foram anexados à carta como suposta prova das irregularidades. A BBF ainda cobra da Abrapalma uma posição pública de repúdio, medidas de fiscalização e atuação junto ao poder público.
Por outro lado, fontes do setor ouvidas pelo Ver-o-Fato afirmam que não há comprovação de que furtos ou invasões tenham causado impactos financeiros significativos na empresa. A leitura predominante é que o colapso da BBF decorre de má gestão financeira, relações rompidas com fornecedores e cooperativas e ausência de planejamento sustentável para suas operações.
Tragédia social anunciada
O cenário atual nos municípios onde a BBF atuava escancara uma tragédia social em curso: demissões em massa, comércio em retração, aumento da pobreza, famílias desamparadas e total ausência de respostas da empresa ou de políticas públicas que amparem a população atingida.
A derrocada da BBF também revela falhas estruturais no modelo de expansão da palma no Norte do país. Mesmo com bilhões movimentados, o setor ainda é marcado por baixa transparência, fiscalização precária e recorrentes denúncias de violações ambientais e trabalhistas. A crise escancara a necessidade urgente de regulação mais efetiva e políticas que garantam desenvolvimento com justiça social na região amazônica.
Silêncio e incerteza
Até o momento, a BBF não respondeu aos pedidos de esclarecimento enviados pela imprensa e autoridades públicas. Tampouco apresentou plano de reestruturação ou proposta concreta de pagamento das dívidas trabalhistas. A omissão só amplia a desconfiança sobre o futuro da empresa e os impactos de sua possível falência.
Enquanto isso, cresce o temor de que outras empresas do setor se aproveitem do vácuo deixado pela BBF para ampliar suas áreas de influência — o que, sem regulação firme, pode levar à repetição de práticas predatórias que colocaram a própria BBF no caminho da ruína.
O espaço segue aberto para manifestação da empresa e das entidades mencionadas.



