Meses atrás, a Folha de São Paulo estampou uma reportagem com tom preconceituoso sobre Belém, descrevendo a capital paraense como um lugar que “fede a esgoto”. A matéria explorou imagens de áreas de palafitas para ilustrar a falta de saneamento e insinuou que a cidade não teria condições de sediar a COP30. A narrativa reforçou estereótipos históricos que tratam a Amazônia como um espaço incapaz de evoluir, sempre a partir de um olhar sudestino e elitista.
Agora, o mesmo jornal volta a falar de Belém – e, novamente, para criticar. Mas a pauta desta vez é ainda mais contraditória: as obras que buscam resolver justamente o problema apontado por eles. As intervenções de saneamento no canal do Caraparu, no bairro do Guamá, são fundamentais para acabar com as condições subumanas em que vivem milhares de famílias há décadas, literalmente sobre o esgoto. Essas obras não são improvisos da COP30; são ações que deveriam ter acontecido há muito tempo e que, finalmente, saíram do papel.

Mas, para a Folha, nada está bom. Antes, criticava a falta de saneamento. Agora, condena as demolições necessárias para abrir espaço aos canais, algo que faz parte de qualquer obra urbana desse porte. Quem conhece Belém sabe que intervenções em áreas de risco e beira de canal sempre ocorreram – mas nunca ganharam tamanha repercussão nacional. Por quê? Porque agora há um megaevento que colocou a cidade no radar da imprensa do Sudeste, e tudo vira pretexto para manchetes negativas.
A hipocrisia é clara: quando o problema existe, usam como argumento para atacar. Quando a solução começa, transformam em outro escândalo. Enquanto isso, ignoram que as obras trarão benefícios permanentes para saúde pública, mobilidade e qualidade de vida. Será que a Folha prefere manter o paraense vivendo sobre o esgoto só para continuar escrevendo textos carregados de preconceito regional?
Belém não precisa da aprovação da Folha para avançar. Mas é preciso denunciar esse jornalismo contraditório que insiste em olhar para a Amazônia com lentes distorcidas, sempre prontas para reforçar estigmas. A COP30 está mostrando que Belém pode – e vai – entregar uma cidade melhor. E isso incomoda quem nunca quis ver a região no centro das decisões globais.



