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Conheça a primeira mulher indígena paraense formada em medicina na UFPA

Apesar de ser um estado de grande influência indígena, só recentemente o Pará viu a formação da primeira mulher indígena nascida em seu solo.

O nome da pioneira é Okitidi Sompré, formada este ano no curso de medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela não é a primeira mulher indígena formada no Pará, mas é a primeira mulher indígena nascida no Pará a se formar em medicina. Okitidi faz questão de destacar.

“Não, eu não sou a primeira mulher indígena do país a se formar médica no Estado do Pará. Porém, posso garantir ser a primeira mulher indígena do Estado, nascida no Estado do Pará, do povo Guarani, por parte da minha mãe; e  Xerente, por parte do meu pai.  Existem três outras meninas indígenas que também  cursaram medicina na UFPA, que são de outros Estados, como Amapá e do Amazonas, uma nascida às margens do rio Solimões. Agora, pertencente ao povo indígena do Estado do Pará, eu sou a primeira medica formada na UFPA”.

Okitidi é da reserva Mãe Maria, berço dos Gaviões Kyikatêjê, localizada a 40 km de Marabá. A reserva ficou conhecida nacionalmente pelo primeiro time de futebol indígena do Brasil, que leva o nome da etnia. Okiditi é irmã do guerreiro Aru, jogador indígena que ganhou destaque como atacante do time, mas que teve a carreira interrompida em um acidente de carro quando voltava para reserva Mãe Maria.

Como homenagem ao irmão, Okitidi Sompré batizou o nome do filho de Aru. Ele nasceu em Belém enquanto ela ainda cursava medicina na UFPA.

O seu caminho até a formação não foi fácil. Ela teve que enfrentar o preconceito, o racismo e o desconhecimento da academia sobre os povos indígenas.

“Pois bem, voltando, lembro que a primeira saudação na sala de aula foi de uma professora muito renomada, parabenizando os alunos que ali estavam, orgulhosa dos alunos que haviam sido classificados em primeiro lugar, notas máximas, essas coisas. Aí, ela fez uma fala muito infeliz e racista. Ela disse:  -“Sejam bem vindos à ´maior do Norte´  (UFPA, como é chamada pela sua importância e tradição no ensino público)  aqueles que lutaram, aqueles que realmente mereceram estar aqui. Eu não sou a favor de cotas, porque cota estraga a universidade, cota é uma falha na Educação”.

Esse episódio despertou nela a necessidade de se posicionar e foi assim que nasceu a Liga Acadêmica do Brasil na UFPA, primeira entidade representativa no Brasil que se volta aos estudantes indígenas, objetivando aproximar professores, profissionais da saúde em geral e pesquisadores, com estudantes e povos indígenas, reconhecendo a importância da saúde indígena, rompendo a distância entre os saberes da academia e o conhecimento e cultura dos povos indígenas.

Okitidi Sompré logo que formada conseguiu emprego, no entanto longe do estado do Pará. Atualmente ela trabalha na cidade de Entre Rios, em Santa Catarina, onde é médica titular da UBS da cidade, que atende mais de 800 indígenas do povo Kaingang em parceria com a SESAI.

Okiditi lamenta que no Pará ainda não tenha processo seletivo para trabalhar na saúde indígena, mas que deseja trabalhar em alguma das dezenas de comunidades indígenas do estado.

“ A minha vinda a Santa Catarina se deu por opção para trabalhar com povos indígenas daqui da região, além da oportunidade. Como no Estado do Pará não tem ainda Processo Seletivo para trabalhar na Saúde Indígena, por este motivo fiquei sem opção na minha terra e, ao receber uma proposta daqui do Estado de Santa Catarina, aceitei – assim como também recebi propostas do Rio Grande do Sul e de outros Estados. Aqui, para mim, está sendo bom, por esses motivos, e porque eu pretendo, futuramente, cursar uma Residência. E quanto a Especialização, que estou a me decidir qual farei , durante meu curso na UFPA gostei muito de cardiologia, ginecologia e Médico da Família e Comunidade -, área que eu me identifico bastante e que está bem próxima também das comunidades indígenas”.

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