Por Heber Gueiros
A rivalidade histórica entre paraenses e amazonenses ganhou novos contornos nos últimos anos, especialmente com o protagonismo que o Pará assumiu na agenda climática. A disputa pela liderança regional e pela representação da verdadeira essência amazônida é um ponto de tensão constante.
Esse antagonismo tem raízes profundas e pode ser traçado até um episódio específico no período imperial brasileiro. Quando o Brasil declarou sua independência em 1822, o Império convocou representantes de todas as províncias para participar de uma Assembleia Constituinte. Naquela época, a Capitania de São José do Rio Negro, que correspondia aos atuais estados do Amazonas e de Roraima e havia sido desmembrada da Capitania do Grão-Pará em 1755, ainda era subordinada diretamente ao Grão-Pará.
A convocação para a Assembleia Constituinte representava uma oportunidade para que a Capitania de São José do Rio Negro alcançasse sua autonomia. No entanto, o ofício de convocação foi enviado para Belém e retido pelo governo do Grão-Pará. Como resultado, o Amazonas não participou da Assembleia e perdeu a chance de obter autonomia política. Na elaboração da Constituição do Império, a região do Rio Negro não foi reconhecida como província independente e permaneceu subordinada ao Estado do Grão-Pará.
Além disso, a notícia da independência do Brasil, proclamada em 1822, só chegou ao Amazonas um ano depois, devido à retenção da informação pelo governo do Pará em Belém. A autonomia política do Amazonas só foi efetivamente alcançada em 1850, após uma longa espera e muitas disputas.
Essa longa história de submissão e luta por autonomia contribuiu para a rivalidade entre os estados. Hoje, a disputa pela liderança na Amazônia, exacerbada pela importância crescente da região nas discussões climáticas globais, continua a alimentar essa antiga rixa.