Cientistas políticos apontam vitória da direita tradicional nas eleições municipais e enfraquecimento da polarização
Partidos do centrão, como PSD e MDB, dominaram o cenário eleitoral, consolidando força em prefeituras e superando o crescimento de legendas polarizadas como PL e PT.
O primeiro turno das eleições municipais trouxe uma clara vitória para os partidos da chamada direita tradicional, com o PSD e o MDB emergindo como as legendas que mais conquistaram prefeituras em todo o Brasil. Apesar de o PL, ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, e o PT, do atual presidente Lula, terem registrado crescimento, foram as siglas do centrão que dominaram o cenário, segundo análises de cientistas políticos ouvidos pelo Congresso em Foco.
Em números absolutos, o PSD conquistou 882 prefeituras, enquanto o MDB ficou com 856. O Republicanos também teve um crescimento significativo, dobrando sua presença em municípios de 211 para 436 prefeitos eleitos. O PL avançou de 344 para 512 municípios, um aumento considerável, mas longe da meta ambiciosa de mil prefeituras estabelecida por Valdemar Costa Neto, presidente do partido. O PT, por sua vez, saltou de 182 para 248 prefeitos eleitos.
Fortalecimento do centrão
Os analistas Ricardo de João Braga e Graziella Testa, em uma live promovida pelo Congresso em Foco, destacaram que o resultado das eleições reforçou o papel do centrão no cenário político, enquanto o discurso de polarização entre a esquerda e a direita extrema perdeu força. Segundo eles, tanto Bolsonaro quanto Lula tiveram um apoio discreto nas campanhas municipais, o que contribuiu para esse fortalecimento de lideranças fisiológicas e menos alinhadas a discursos polarizados.
Fim da polarização
Braga explicou que, ao contrário do esperado, a polarização entre bolsonaristas e lulistas não definiu a eleição de forma dominante. “A dimensão direita e esquerda ainda é forte, mas o que se viu foi um fortalecimento dos partidos entre esses extremos, que tecnicamente não são centristas, mas estão à direita do espectro político”, afirmou. Ele também observou que, para essas legendas do centrão, as articulações políticas com o governo Lula tendem a ser desafiadoras, devido a um “descasamento ideológico” entre o núcleo da coalizão governista e seus aliados pragmáticos.
Cenário político complexo
Com esse fortalecimento do centrão, o terceiro governo Lula enfrentará desafios nas articulações com um Congresso e uma base de prefeituras dominados por legendas de centro-direita. Essa realidade política aponta para um cenário de negociações difíceis, uma vez que os partidos do centrão são conhecidos por adotarem posições flexíveis, baseadas em conveniências políticas, e não em uma orientação ideológica sólida.
As próximas etapas das eleições municipais, como o segundo turno em grandes cidades, serão importantes para definir até onde vai a influência desses partidos e como o governo federal lidará com essa nova configuração política. O avanço do centrão indica uma mudança significativa na política brasileira, afastando-se da intensa polarização dos últimos anos.