BELÉMCOP30NOTÍCIASPará

Belém mostra nova cara após COP30, mas especialistas apontam desafios no saneamento e no turismo

Com mais de 30 intervenções urbanas e R$ 6,12 bilhões investidos, capital paraense vive fase de revitalização, enquanto debate sobre desigualdade nas obras e legado turístico ganha força

Belém vive um período de transformação após sediar a COP30. Entre projetos antigos finalmente executados e obras criadas especialmente para o evento, a capital paraense recebeu 33 intervenções que reconfiguraram parte expressiva da cidade. Agora, com o encerramento da conferência, a população e especialistas começam a avaliar o alcance real desse legado.

Os investimentos ligados à preparação do evento — somando ações da União, Governo do Pará, estatais e setor privado — chegaram a R$ 6,12 bilhões. Entre as principais entregas estão o Parque da Cidade, sede da COP; a macrodrenagem de 13 canais com implantação de parques lineares; a reforma do Mercado de São Brás; o Porto Futuro II; o novo BRT; e a modernização do Terminal Portuário de Outeiro, agora apto a receber transatlânticos.

Aprovação popular, mas críticas ao saneamento

Durante a conferência, moradores circularam pelas novas áreas e destacaram a revitalização de espaços antes pouco aproveitados. A recuperação de casarões e galpões abandonados, além das reformas em grandes equipamentos urbanos, foram amplamente elogiadas.

No entanto, um ponto segue como gargalo: o saneamento básico. Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 20% dos habitantes de Belém têm acesso à coleta de esgoto, e o tratamento cobre somente 2,4% da cidade. A crítica ganhou força em bairros periféricos, onde moradores relatam falta de equidade na qualidade e distribuição das obras.

Obras polêmicas e desigualdade urbana

Alguns projetos, apesar de relevantes, despertaram controvérsias. A Avenida Liberdade — considerada estratégica por abrir um segundo eixo de acesso à cidade e desafogar a BR-316 — avançou sobre área de proteção ambiental, dividindo opiniões entre defensores da mobilidade e críticos ao desmatamento.

Especialistas em urbanismo e lideranças comunitárias afirmam que a região central recebeu obras mais refinadas, enquanto bairros periféricos tiveram intervenções consideradas inferiores em padrão arquitetônico e ambiental. Um exemplo citado é a diferença entre a Nova Doca e a macrodrenagem do Tucunduba, onde moradores apontam corte excessivo de árvores e impactos climáticos.

Outro ponto de tensão está na Vila da Barca, onde uma estação elevatória de esgoto foi implantada próximo às residências, acentuando debates sobre desigualdade ambiental.

Cultura como ativo estratégico

Se a infraestrutura dividiu opiniões, a cultura foi unanimidade. As festas de aparelhagem, o carimbó, as rodas de samba, a culinária e os eventos populares impressionaram os visitantes internacionais.

Produtores culturais afirmam que a COP30 reforçou a importância da cultura amazônica como ativo econômico e político. Durante o evento, programações paralelas atraíram milhares de pessoas, movimentando bares, mercados, feiras e pontos turísticos.

Turismo: potencial elevado, mas caminho longo

A modernização do Porto de Outeiro, que recebeu R$ 233 milhões e agora pode ancorar transatlânticos, abre uma frente importante para o turismo náutico. A expectativa do setor é que a nova infraestrutura coloque Belém na rota de cruzeiros e aumente a chegada de visitantes.

Pesquisadores, entretanto, alertam que a cidade ainda precisa melhorar serviços, qualificação profissional, preço da hotelaria e campanhas de promoção, especialmente para competir com Manaus e se firmar como destino de eventos.

O Governo do Pará afirma que a conferência fortaleceu a posição da cidade no cenário internacional, distribuiu 46 mil certificados de capacitação e impulsionou projetos de promoção turística que seguirão no pós-COP.

Legado em disputa

Com elogios e críticas, Belém entra agora na fase mais importante: comprovar se as obras entregues conseguirão melhorar a vida dos moradores e transformar a cidade em referência amazônica para turismo, cultura e sustentabilidade.

Etiquetas

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar