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Bairro de Nazaré: um risco para o sucesso da COP30

Por Eduardo Cunha

Sejamos francos: as principais obras que estão sendo realizadas em Belém para preparar a cidade para a COP30 têm um único propósito claro: acolher os turistas e criar uma impressão favorável que eles levarão consigo ao final do evento que trata das mudanças climáticas.

Por esse motivo, essas intervenções estão sendo estrategicamente concentradas nos trajetos e nos pontos que as autoridades e visitantes irão percorrer, além dos principais locais turísticos que serão frequentados durante o evento.

Sim, é um espetáculo para inglês ver — mas, ao menos, que as obras sejam concluídas a tempo e que, se possível, permaneçam como legado para os habitantes da cidade das mangueiras. Até aí, nada de novo no front.

Sendo assim, ao desembarcar no aeroporto, o turista logo avistará o Parque da Cidade, uma obra que avança a uma velocidade impressionante para os padrões brasileiros, o que deixa claro que, quando há interesse por parte do Poder Público, as coisas realmente acontecem rapidamente, a toque de caixa. 

Saindo do Hangar, o visitante encontrará a revitalizada Avenida Duque de Caxias. Se seguir para a Estação das Docas, ponto turístico obrigatório de quem visita a cidade, verá o Nova Doca e o Porto Futuro II. Caso decida almoçar na Casa das Onze Janelas ou no Mangal das Garças, se deparará com o Canal da Tamandaré completamente transformado, como um verdadeiro porto que conecta passageiros ao Combu, Cotijuba, à Ilha das Onças e até ao Marajó.

Mas até aí, “morreu Neves”. O verdadeiro calcanhar de Aquiles da COP30 pode, quem diria, ser o bairro de Nazaré. Explico.

Ocorre que, em algumas quadras do bairro de Nazaré — que, no passado, abrigava a elite da cidade, mas que, com o tempo, viu grande parte dessa classe migrar para condomínios de luxo na Augusto Montenegro ou para apartamentos no Umarizal — a realidade hoje é outra: um cenário de abandono, insegurança e um trânsito cada vez mais caótico e perigoso.

Por outro lado, é importante ressaltar que uma das regiões mais críticas, especialmente na confluência com o bairro da Campina, entre a travessa Benjamin Constant e a Serzedelo Corrêa (Nazaré/Campina), também abriga importantes pontos turísticos como o Bar do Parque, o Theatro da Paz, o Palacete Bologna e o Faciola. Sem contar os principais hotéis de Belém, como o Princesa Louçã, o Radisson e o Grand Mercure, sem falar ainda nas opções do Airbnb.

Abandono

O plano de “maquiar” a cidade até poderia ser uma boa ideia, mas, como qualquer projeto, deve levar em consideração diversas variáveis. No entanto, este parece ser daqueles casos em que “esqueceram de avisar aos russos”.

Basta que um turista decida caminhar até a Praça da República — o que não é nada difícil — para se deparar com o cenário de abandono. Lixeiras quebradas, bocas de lobo expostas e o roubo constante de cabos são apenas alguns dos problemas visíveis. E, apesar de a Guarda Municipal ter um posto ali, bem próximo, não se vê qualquer ação de ronda.

Além disso, há buracos nas pedras portuguesas do piso, sem falar no lixo e nas fezes humanas, que frequentemente espalham-se pela praça, tornando a área ainda mais insalubre e desolada.

Para se ter uma ideia do descaso, uma árvore tombou há quase duas semanas e ainda não foi removida do local. Engana-se quem pensa que isso acontece apenas por causa da época de festas — essa situação se repete durante o ano todo.

Insegurança

A situação da insegurança nesta região é alarmante. O local transformou-se em uma verdadeira “cracolândia”, não apenas cercada por pedintes, mas também por criminosos que roubam, saqueiam e praticam atos de vandalismo.

A loja de conveniência Tudo, que funcionava 24 horas na Serzedelo Corrêa, foi forçada a fechar após dois roubos em 2023, reabrindo uma nova unidade com horários reduzidos. Já o supermercado Yamada, localizado no início da Av. Nazaré, depois de ter suas janelas de vidro quebradas e o estabelecimento saqueado no mesmo ano, instalou chapas de ferro nas portas e janelas, tentando proteger o local da violência.

Não seria surpresa, porém, se em outubro de 2025 a “cracolândia” desaparecesse de forma misteriosa, com todos os problemas sendo atribuídos, claro, à conta do Papa… ou, melhor dizendo, à conta COP.

Trânsito Caótico

Se o engarrafamento causado pelas escolas próximas já não fosse um problema, a região ainda enfrenta um trânsito verdadeiramente caótico. É comum ver motocicletas circulando na contramão e subindo pelas calçadas, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

O semáforo no início da Av. Nazaré, logo abaixo do Edifício Manoel Pinto da Silva, provavelmente é o mais desrespeitado da cidade. Motociclistas simplesmente ignoram o sinal vermelho, sem qualquer pudor.

Concluindo…

É comum ver turistas neste trecho da cidade, caminhando entre as mangueiras e explorando alguns pontos turísticos a pé, com garrafinhas de água e mapa na mão. Acreditem: com a situação atual de abandono dessa área, o menor problema que esses visitantes podem enfrentar é ser atingidos por uma manga.

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