O 1º Festival Paraense TEAlentos, que ocorre neste final de semana, abre um espaço precioso para artistas e suas habilidades, que tomam conta do palco e ganham o mundo nas asas da internet. O Festival reúne, no Teatro Gasômetro, em Belém, pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em uma programação transmitida ao vivo pelo canal oficial do Governo do Estado no YouTube. Neste sábado (17), primeiro dia do evento, houve apresentações de música, artes visuais, dança, teatro e poesia. No teatro e na imensa plateia remota, a emoção ganhou um nicho especial.
Aos 15 anos, Alan Cauê Oliveira da Silva foi o primeiro a subir ao palco do Gasômetro, no Parque da Residência. Dotado de ouvido absoluto, ele tem a habilidade de discernir, simultaneamente, várias notas musicais. Desde criança, Alan conta com o apoio da família e da igreja que frequenta para se aperfeiçoar no canto e no violão. “Quando eu estava cantando na missa de 7º dia da minha avó, o pároco me convidou para fazer parte de um coral. É maravilhoso esse evento para mostrar o talento dos autistas. Isso é bom para demonstrar o que eles conseguem fazer”, disse o adolescente.
A abertura do Festival emocionou o público presencial e remoto, com Alan cantando em inglês, tocando violão e teclado. No repertório, um lugar para o brega paraense.
Na plateia, os pais do jovem – caçula dos três filhos -, se renderam à emoção. “Engravidei do Cauê com 40 anos de idade, uma criança que veio com muita luz para a nossa família. Hoje, estou com 55 e o pai dele com 61, e ficamos pensando em encaminhá-lo urgente, porque parece que já vamos embora. Em algo que ele seja independente e não precise de nós. A música é onde estamos investindo, pois ele diz que gosta e tem um dom. Esse evento vai abrir muitas portas para eles”, ressaltou Iraneide Oliveira, mãe de Alan Cauê.
Na categoria Artes Visuais, Iranaide Brabo Rodrigues inscreveu o filho Genilson Yuri Rodrigues, 13 anos, que apresentou gravuras. “Minha irmã me avisou do Festival e vimos que ele poderia participar. O potencial do Yuri é o desenho”, contou a assistente social. Atento à conversa, Yuri logo completou: “Todas as pessoas têm o seu potencial; só precisam saber. Eu gosto de fazer desenhos, mas acho que posso fazer melhor. Também quero fazer outras coisas, como ficar mais tempo com a família. Gosto também de refletir no parque para ver a natureza”. E é na natureza que ele busca inspiração e “modelos” para desenhar tigres, pássaros e até os extintos dinossauros.
Para Iranaide Rodrigues, o desenho foi o estímulo para outras atividades, como a leitura. “Ele não conseguia ler nem escrever. Hoje, ele já lê”, contou ela, moradora do bairro do Guamá.
Adaptação– Coordenadora Estadual de Políticas para o Autismo (Cepa), Nayara Barbalho falou sobre a emoção que também tomou conta de toda a equipe técnica envolvida no Festival. “Estamos vendo um exemplo de superação atrás do outro. O autismo é uma condição que traz como principal dificuldade a comunicação e a interação social. Eles estão aqui se apresentando para uma plateia incontável, de maneira segura, nessa pandemia. Nós diminuímos a quantidade de iluminação para adaptar o ambiente, o som. Quem quis falar, falou, e quem não quis, não falou. O evento foi totalmente adaptado para as pessoas com transtorno do espectro autista”, ressaltou a coordenadora.
A maioria das apresentações ocorreu de forma virtual para possibilitar a participação de pessoas do interior do Pará. “O sentimento é de gratidão, porque o carinho das famílias, o olhar durante os ensaios, foi o dizer que estamos no caminho certo. O Estado do Pará está fazendo história, melhorando a vida dessas pessoas e das suas famílias. É reconhecido como um estado de política pública de vanguarda. Nesses últimos dois anos houve avanços, mesmo com essa pandemia, inimagináveis pelas pessoas. Nunca se falou tanto e nunca se fez tanto pelas pessoas com TEA no Estado”, garantiu Nayara Barbalho.
Parcerias– A Cepa, vinculada à Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), contou com a parceria de outros órgãos, como as secretarias de Estado de Cultura (Secult), de Comunicação (Secom) e de Educação (Seduc), além das fundações Cultural do Pará (FCP) e Carlos Gomes (FCG) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que disponibilizou no seu site um mês para venda de produtos confeccionados por pessoas com transtorno do espectro autista.
Ursula Vidal, titular da Secult, destacou o trabalho da Cepa no processo de reunir parceiros e sensibilizar a sociedade civil com informações corretas, que precisam ser partilhadas em relação ao Transtorno do Espectro Autista. “Estamos aqui celebrando os talentos, as capacidades. Começamos essa parceria em 2019, na Feira do Livro (Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes), e só vem crescendo. Esperamos que esse Festival TEAlentos faça parte de um calendário anual, de uma agenda de inclusão, sensibilização e partilha na construção de uma sociedade mais justa e solidária”, frisou a secretária.
Valorização– Além de adaptar o evento para melhor conforto e segurança dos participantes, em função principalmente da pandemia de Covid-19, dar um caráter híbrido ampliou o acesso do público a esses produtos culturais.
A Secretaria de Estado de Comunicação acreditou que, mesmo em meio à pandemia, seria possível levar entretenimento e valorização a este público de forma virtual. “É uma honra contribuir com o ‘TEAlentos’. Essa é uma excelente oportunidade para mostrar que as pessoas com TEA podem se comunicar muito bem se incentivadas, seja pela música, pela poesia, pelo desenho. O objetivo do governo do Estado é valorizar isso e proporcionar a inclusão, fazer com que sejam superadas as limitações, e que todas essas habilidades demonstradas se sobreponham às dificuldades”, reiterou a secretária de Estado de Comunicação, Vera Oliveira.
A programação do Festival TEAlentos pode ser vista na íntegra no canal youtube.com/governopara. Neste domingo (18), o encerramento será transmitido ao vivo, a partir das 18 h.
Fonte: Secom/ Fotos: Alex Ribeiro (Agência Pará)