As novas técnicas das milícias digitais

O ano era 2010 e a internet ia ganhando mais espaços nas eleições. As informações contra ou a favor aos candidatos começavam a circular pela rede em uma velocidade jamais vista. Foi então que um grupo de militantes do PT se uniu e fez um trabalho de defesa da então candidata Dilma Rousseff. Em outras palavras, tratava-se de um grupo organizado pelo partido para policiar a rede, defender a candidata e atacar a oposição.
Nascia ali o “Militante de Ambientes Virtuais”, mais conhecido como MAV. Em 2011 o partido oficializou a criação dessa patrulha virtual com técnicas estabelecidas, táticas de guerrilhas e treinamentos aos militantes. Desde daí, o jogo de narrativas passou a fazer parte do processo eleitoral.
Com as mudanças no cenário político, o crescimento da direita nacional e a ascensão de Bolsonaro ao posto de presidente da república, a esquerda petista perdeu – digamos assim – o “controle” militante da internet. A direita aprendeu a usar as mesmas técnicas que os petistas. Ou até melhor. O PT viu sua arma contra Serra, Marina e Aécio ser usada contra si.
A perda do controle pontuou uma nova forma de enxergar essa militância virtual, mas devido ao sucesso da direita passou-se a chamá-los de “milícias digitais”, hoje totalmente atrelada ao bolsonarismo, mas que é usada também pelo petismo.
Não para por aí. Essa milícia virtual também costuma agir em temas referentes às liberdades individuais. Basta que alguém fale sobre um assunto ou defenda um ponto de vista que o outro grupo que não concorda aparece com uma série de perfis que começam a atacar em bloco a publicação. Esse ataque coordenado pode ser usando perfis “bot” ou mesmo perfis reais.
Como atrair esses perfis reais? Basta que uma pessoa apenas compartilhe a postagem em grupos ideologicamente homogêneos que os ataques começam. Um exemplo recente aconteceu com a pré-candidata a vereadora Carol Costa. Ela fez uma postagem falando sobre algumas de suas lutas como a defesa da família, combate à intolerância religiosa e contra doutrinação nas escolas. Se antes, suas publicações tinham pouco engajamento, esta especificamente, recebeu mais de 700 comentários com a esmagadora maioria contrária ao pensamento de Carol.

Para quem não está acostumado assusta. O modo de agir, os comentários em sequência e os argumentos não tão republicanos desmobilizam uma reação. Carol Costa viu isso ao vivo na sua postagem.
É bom deixar claro que não estamos aqui fazendo juízo de valor, muito menos desejamos que a sociedade tenha um editor, entendemos que liberdade de expressão, entre outras coisas, seja usada para falar aquilo que não concordamos.
Do pensamento conservador sendo alvo de ataque, também temos o contrário, o pensamento progressista sendo o alvo. Um exemplo recente é caso Thammy Miranda e Natura com algumas postagens defendendo a peça publicitária, mas com os comentários desfavoráveis em sequência.
Perceba que a milícia digital está dos dois lados. E é extremamente polarizada, mas nem sempre.
Recentemente, com os episódios dos escândalos do governo Helder durante a pandemia, a própria página do “parawebnews” e de seu editor sofreram ataques de perfis pró-Helder. Outras páginas e blogs relataram a mesma situação.
Outro dia membros do Movimento Liberal Paraense (MLP) passaram pela mesma situação após um texto com críticas ao deputado federal Edmilson Rodrigues na página.
Por mais que muitos políticos condenem a prática de milícia digital, muito em função dela agora estar atrelada ao bolsonarismo, é notório, porém, que muitos se cercam dessa estratégia para sua defesa e ataque a adversários. Tem muita gente que condena a prática, no entanto, se presta a servir o exército de milicianos digitais quando discorda do pensamento alheio.



