ENTRETENIMENTO

Ao refazer “Pantanal”, Globo acerta contas com erro crasso do passado

Exibida há 30 anos, entre 27 de março e 10 de dezembro de 1990, “Pantanal” é um dos maiores acertos da curta história da Rede Manchete (1983-1999). Para além das suas muitas qualidades, a novela de Benedito Ruy Barbosa entrou para a história por ter sido oferecida e recusada pela Globo ao longo de alguns anos.

Uma reportagem no “Fantástico” neste domingo (06) revelou oficialmente que a Globo decidiu fazer um “remake” da novela. Coube a Ricardo Waddington, diretor de produção da emissora, informar que “Pantanal” está programada para 2021.

Silvio de Abreu, diretor de teledramaturgia, em tese o responsável pelas escolhas de novelas da emissora, não apareceu no “Fantástico”. Em 2016, Benedito contou que a exigência que fez à Globo para escrever “Velho Chico” foi que Abreu não tivesse qualquer ingerência sobre o seu trabalho. “Não quero que ele leia e que ele ponha a mão na novela.”

Benedito já contou várias vezes a história de como criou “Pantanal” e por que a Globo a recusou. Recorro a uma das fontes mais confiáveis, a longa entrevista que deu ao livro “Autores – Histórias da Teledramaturgia”, realizado pelo Memória Globo.

A ideia de escrever “Amor Pantaneiro” (primeiro título que deu) surgiu durante uma viagem de férias ao hotel-fazenda que Sergio Reis estava começando a construir em Pouso da Garça, cortado pelo rio São Lourenço (MT). Benedito teve uma epifania após uma noitada regada a vodca misturada com cerveja, viola tocando, o céu estrelado e um nascer do sol à beira da lagoa.

“Eu fiquei extasiado. Estava maravilhado com o espetáculo da natureza”, conta. “Ele (Sergio Reis) disse que todo amanhecer e pôr-do-sol eram aquela lindeza. E resolvi fazer uma novela naquele lugar”.

Ainda de férias, Benedito escreveu a sinopse completa. “Como se sempre tivesse pensado na Mulher Onça, no Velho do Rio… Vinha tudo à minha cabeça. Quando terminei, não mostrei a ninguém. Mas, para vender a ideia, eu teria que apresentar um capítulo. Então, comecei a escrever”.

Benedito diz que escreveu 16 capítulos e levou à Globo. Conta que Paulo Ubiratan (1947-1998) foi o primeiro a ler e disse que queria dirigir. “Mas ninguém falou mais no assunto, e eu fiquei esperando. Cada vez que me pediam, eu levava a sinopse de novo. Mas aquilo não andava. Quem me ajudou foi o Mário Lucio Vaz (1933-2019). Ele acreditava muito em ‘Pantanal’.”

“Até que o Boni aceitou mandar uma equipe comigo ao Pantanal para avaliar as condições. Acontece que fui burro: não me lembrei que era época das enchentes”. Os diretores Atilio Riccó e Herval Rossano (1935-2007), que acompanharam a visita, apresentaram um relatório que, nas palavras de Benedito, foi “um desastre”.

Quando o diretor Jayme Monjardim foi para a Manchete, o nome de Benedito foi ventilado na nova emissora. Ele respondeu: “Para trocar de emissora só se for para fazer ‘Pantanal’.” Benedito conta que teve uma reunião com Adolpho Bloch (1908-1995), o dono da emissora, ao final da qual ele disse: “Não quero saber quanto você ganha na Globo. Pago três vezes mais para você vir fazer essa novela aqui. Eu banco”.

Conta Benedito: “Eu topei na hora. Depois fui falar com o Boni e pedir pra me liberarem. A única condição para que não fosse embora da Globo seria fazer ‘Pantanal’. Como não havia essa possibilidade, fui para a Manchete”.

O relato de Benedito no livro “Autores”, publicado em 2008, é resultado de duas entrevistas, uma em 2000 e outra no ano do lançamento. Em 1990, no ano em que a novela estreou, o autor foi citado numa reportagem da revista “Veja” atribuindo a responsabilidade maior pelo veto de “Pantanal” na Globo a Daniel Filho. “O voto contrário mais forte foi de Daniel Filho”.

Na mesma reportagem, Herval Rossano diz: “Não me eximo da responsabilidade pela perda de ‘Pantanal’ para a Manchete, mas acho que a novela ainda hoje seria inviável na Globo. A Globo é uma empresa grande demais, em que os atores trabalham no máximo oito horas por dia e fazem exigências que não fazem nas outras emissoras”.

Quem vai ser a nova Juma?

A nova versão de “Pantanal” terá direção artística de Rogério Gomes, o Papinha, e será escrita por Bruno Luperi, neto de Benedito. Luperi traz na bagagem a experiência de ter escrito “Velho Chico” com o avô.

Uma questão que já causa alvoroço é a da escolha da atriz que interpretará Juma Marruá, papel que revelou na versão original a então novata Cristiana Oliveira.

“Eu fico vendo a televisão o tempo todo procurando quem eu vou chamar para ser a Juma”, disse Benedito ao “Fantástico”. “Eu apostaria num rosto novo, apostaria num lançamento”, disse Waddington. “A gente depende muito dessa família, de quem será o pai, quem será a mãe. Em cima desse DNA, a gente vai chegar na atriz que vai fazer a Juma”, completou Gomes.

Fonte UOL

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