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Ambientalista paraense vai inspirar nome de novas espécies de formigas, diz pesquisadora

Valorizar mulheres que, de alguma forma, inspiram outras. Esse era o objetivo da pesquisadora Mônica Antunes Ulysséa quando decidiu os nomes que daria a algumas das novas espécies de formigas que ela descobriu em sua pesquisa de doutorado, publicada na revista científica Zootaxa. Entre as homenageadas, que se destacam nas mais diversas áreas, estão a socióloga e política Marielle Franco, a escritora Clarice Lispector e a jogadora de futebol Miraildes Maciel Mota, mais conhecida como… Formiga!

Mônica é bióloga com mestrado em Zoologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e doutorado em Sistemática, Taxonomia Animal e Biodiversidade pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), onde é pesquisadora de pós-doutorado.

Ela explica que a inspiração para os nomes das novas espécies surgiu naturalmente: “Quando me vi com 14 novos nomes de formiga para escolher, não foi dificil pensar nessa homenagem. Ela brotou do que eu sou, e eu sou mulher, experiencio as questões relacionadas ao meu gênero, mais do que umas mulheres e menos que outras, mas todas essas questões me tocam”, declarou em entrevista ao Olhar Digital.

“Escolhi mulheres que, de alguma forma, me tocam, me emocionam por sua escrita poética e combativa, por sua luta, sua política, suas ideias, seu brilhantismo, sua coragem, suas bravuras, enfim, por meu afeto”. Segundo a bióloga, além da escolha pessoal, alguns dos nomes foram sugeridos por outras mulheres. “Perguntei também por sugestões em algumas rodas de mulheres, assim conheci a paulistana Virginia Leone Bicudo e a paraibana Margarida Maria Alves, e então fui compondo essa homenagem para dar visibilidade a todas essas mulheres incríveis, que na realidade somos todas nós”.

Formigas são essenciais à biodiversidade

Segundo Mônica, a formiga tem grande importância no ecossistema. “As formigas participam de diversos processos ecológicos que ocorrem no dia a dia da vida em um ambiente. Elas, por exemplo, ajudam a controlar a população de outros animais através da predação, são dispersoras de sementes, atuam na polinização e na decomposição, revolvem o solo e servem como alimento para muitas outras espécies”.

De forma “injusta”, esses insetos passaram a ser tratados como nocivos, o que a bióloga explica ser decorrente da ação humana. “A formiga como praga só vem depois da prática da monocultura com base em toneladas de agrotóxicos que diminuem drasticamente a biodiversidade de um local, desequilibrando todos os processos ecológicos que ali ocorrem”.

Veja a lista de mulheres homenageadas pela pesquisadora

Hylomyrma adelae: Espécie em homenagem à educadora, feminista, ensaísta e poeta boliviana Adela Zamudio, pioneira na luta contra o racismo e a discriminação às mulheres na América Latina.

Hylomyrma dandarae: Espécie em homenagem a Dandara dos Palmares, que foi casada com Zumbi dos Palmares, atuou na resistência contra escravidão praticada no Brasil Colônia e se suicidou para não retornar à condição de escrava.

Hylomyrma jeronimae: Espécie em homenagem à brasileira Jerônima Mesquita, mineira, enfermeira e líder feminista. No dia 30 de abril, data de seu nascimento, é comemorado o Dia Nacional da Mulher, em reconhecimento à sua importância na luta contra a desigualdade de gênero no país.

Hylomyrma lispectorae: Espécie em homenagem à ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector, jornalista, escritora e um dos principais nomes da literatura brasileira do século 20.

Hylomyrma macielae: Espécie em homenagem à jogadora de futebol baiana Miraildes Maciel Mota, mais conhecida por seu apelido: Formiga. Única futebolista a ter participado de sete edições dos Jogos Olímpicos e de todas as edições da Copa de futebol feminino, é símbolo de superação: mulher, negra, nordestina e integrante da comunidade LGBTQIA+. 

Hylomyrma margaridae: Espécie em homenagem à paraibana Margarida Maria Alves, defensora dos direitos humanos e das trabalhadoras rurais. Ela foi a primeira sindicalista mulher do Brasil.

Hylomyrma mariae: Espécie em homenagem à paraense Maria do Espírito Santo da Silva, extrativista, ambientalista e sindicalista, reconhecida por sua luta em prol da preservação da floresta Amazônica, do extrativismo sustentável e em defesa da reforma agrária. 

Hylomyrma marielleae: Espécie em homenagem à carioca Marielle Francisco da Silva, mais conhecida como Marielle Franco, socióloga e política que defendia o feminismo, os direitos humanos, a população LGBTQIA+ e os moradores de comunidades carentes, até ser assassinada a tiros em 2018.

Hylomyrma mitiae: Espécie em homenagem à amiga pessoal de Mônica, Mítia Heusi Silveira, “uma mulher incrível e inspiradora”, responsável por desenvolver projetos com fungos e besouros, que trabalhou na Fundação Nacional do Índio (Funai) e foi vítima de feminicídio aos 26 anos.

Hylomyrma primavesi: Espécie em homenagem à engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, austríaca radicada no Brasil, que foi pioneira nos estudos dos solos em florestas tropicais e revolucionou a visão sobre a agricultura ao considerar o solo um organismo vivo, lançando assim as bases para a agroecologia e agricultura orgânica. 

Hylomyrma virginiae: Espécie em homenagem à socióloga paulistana Virginia Leone Bicudo, que foi pioneira no estudo das relações raciais no Brasil. Ela adentrou na psicologia à procura de respostas para as causas do sofrimento, sendo a primeira não médica a ser reconhecida como psicanalista.

Com informações Olhar digital*

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