Menos de 3% das cidades brasileiras concentram metade dos 46,4 mil homicídios registrados no Brasil em 2022, de acordo com a mais recente edição do Atlas da Violência. O relatório, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que 162 municípios somaram metade dos assassinatos ocorridos no país naquele ano.
Altamira, o maior município do Brasil em área territorial, ocupa a sexta posição entre as cidades com maior taxa de homicídios no país, registrando 71,3 homicídios por 100 mil habitantes. As cinco primeiras posições são todas ocupadas por cidades da Bahia: Santo Antônio de Jesus (94,1), Jequié (91,9), Simões Filho (81,2), Camaçari (76,6) e Juazeiro (72,3).
A pesquisadora Samira Bueno, uma das coordenadoras do Atlas e diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que essas cidades estão na rota do narcotráfico, tanto para consumo doméstico quanto para exportação. “São cidades que estão na rota do narcotráfico, seja para consumo doméstico, seja para exportação”, explica Samira.
Segundo Samira, há duas décadas, os homicídios eram uma violência característica das grandes cidades, onde facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) buscavam se estabelecer. Hoje, a dinâmica mudou com a interiorização do tráfico de drogas, especialmente na última década, e a expansão das facções para regiões Norte, Centro-Oeste e outras cidades anteriormente menos afetadas por essa violência.
Altamira, além de ser um ponto crítico devido à presença do Comando Classe A (CCA), também enfrenta problemas graves relacionados ao desmatamento, garimpos ilegais e grilagem de terras. A combinação dessas atividades ilícitas com a violência gerada pelo narcotráfico coloca a população em situação de risco constante.
Os municípios menores, que antes não enfrentavam esses problemas, agora estão no radar das organizações criminosas, resultando em um aumento significativo das taxas de homicídios e outros crimes. A interiorização do tráfico de drogas trouxe um novo cenário de violência para essas regiões, muitas vezes associada a crimes ambientais e conflitos agrários.