A “Colônia do Prata”, localizada em Igarapé-Açu, no nordeste do Pará, que em tempos passados abrigou pessoas com hanseníase, hoje enfrenta uma realidade de abandono que preocupa seus internos. Com a comunidade fundada em 1924, a política de isolamento obrigatório para portadores da doença terminou em 1986, mas ainda abriga cerca de 150 remanescentes, que relatam falta de assistência e negligência por parte das autoridades.
José do Livramento Martins, internado compulsoriamente na colônia aos 14 anos, há 48 anos, descreve um cenário de completo descaso. Internos alegam que estão sem remédios básicos, material de limpeza e curativos, enfrentando ainda a presença de médicos e enfermeiros apenas uma vez por semana.
Um dos problemas mais alarmantes é a precária qualidade da água que abastece a vila. Mesmo com a construção de uma caixa d’água há dois anos, a rede de distribuição, que não é trocada, tem quase 100 anos de uso, deixando os moradores obrigados a conviver com líquido sujo saindo das torneiras.
Sete pacientes, sem vínculos familiares, vivem isolados em um abrigo, enquanto os demais que têm contato com seus parentes residem na vila, mas também enfrentam a falta de assistência médica e social.
As denúncias incluem relatos de escassez de remédios e materiais básicos nas farmácias da 3ª Regional da Secretaria de Saúde Pública (Sespa), bem como atrasos na aquisição ou troca de próteses para aqueles que já sofreram mutilações devido à doença. A situação fica ainda mais alarmante com a vulnerabilidade alimentar dos internos, já que a distribuição de cestas básicas mensais tem sido insuficiente, com apenas três cestas fornecidas por ano desde 2020.
Em resposta, a diretora da unidade de saúde negou as denúncias. A Prefeitura de Igarapé-Açu afirmou que a distribuição de medicamentos é de responsabilidade da Unidade Básica de Saúde (UBS), cumprindo as determinações do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Ministério da Saúde. Quanto às próteses, elas são enviadas à Unidade de Referência Marcelo Candia.