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A máquina de colher açaí não vai acabar com empregos, mas ajudar na geração de riqueza no interior do Pará

Há aquela famosa estória apócrifa de um engenheiro que, em visita à China, deparou-se com uma enorme equipe de operários construindo uma barragem com pás e enxadas.

Quando o engenheiro disse ao supervisor da obra que todo o trabalho poderia ser completado em poucos dias — em vez de em vários meses — caso os trabalhadores utilizassem escavadeiras motorizadas, o supervisor disse que não podia fazer isso, pois tal equipamento iria destruir vários empregos.

“Ah”, respondeu o engenheiro, “pensei que você estava interessado em construir uma barragem. Se o seu objetivo é apenas criar empregos, então por que você não coloca seus homens para trabalhar com colheres em vez de enxadas?”.

Essa anedota destaca uma verdade essencial: o objetivo de qualquer atividade produtiva é gerar o máximo valor possível com os recursos disponíveis, incluindo o esforço humano. Em um mundo de recursos escassos, é fundamental buscar a maior eficiência possível. Criar empregos não é um problema; o verdadeiro desafio é criar empregos produtivos que gerem valor.

Isso nos leva ao caso do açaí no Pará. Após um vídeo mostrando uma nova máquina de colheita viralizar, surgiram preocupações sobre o impacto na profissão dos “peconheiros”, que tradicionalmente escalam as palmeiras para colher os frutos. No entanto, a nova tecnologia não deve ser vista como uma ameaça, mas como uma oportunidade de profissionalizar e modernizar a cadeia produtiva do açaí.

O Pará é o maior produtor de açaí do Brasil, responsável por quase 99% da produção nacional, segundo o IBGE. A colheita tradicional é perigosa, levando a acidentes e até mortes. A nova máquina automática, que ainda não tem nome oficial, promete transformar esse cenário. Capaz de colher mais de 100 pés de açaí em uma manhã – dez vezes mais que um peconheiro – a máquina opera com segurança e eficiência, reduzindo o risco de acidentes e aumentando a produtividade.

Com um design compacto e movida a bateria, a máquina escala as palmeiras, corta os cachos com uma serra e os recolhe com um gancho, tudo controlado remotamente. Segundo Reinaldo Santos, CEO do Açai Kaa, essa tecnologia traz dignidade aos ribeirinhos, evita acidentes de trabalho e combate o trabalho infantil, além de acelerar a colheita e aumentar a produtividade.

Profissionalizar a cadeia do açaí é essencial, especialmente agora que o fruto se tornou uma commodity com crescente demanda nacional e internacional. Agregar valor ao açaí no Pará pode abrir novas oportunidades de emprego e desenvolvimento econômico.

Concentrar-se apenas na criação de empregos, sem considerar o valor gerado por esses empregos, pode ser prejudicial à economia. O progresso econômico vem do aumento da produtividade, o que significa produzir mais ou melhores bens e serviços com menos trabalhadores. Isso libera mão-de-obra para setores mais produtivos, promovendo um crescimento econômico sustentável.

Portanto, compreender que o aumento da produtividade é a fonte de crescente prosperidade é fundamental. Políticas públicas que ignoram essa realidade tendem a ser destrutivas, embora possam parecer benéficas à primeira vista.

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