Os principais setores de exportação do Pará – carne, madeira, pescado e açaí – vivem dias de incerteza após o anúncio do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida deve impactar diretamente as exportações do estado, que tem no mercado americano um dos principais destinos de seus produtos, e já faz produtores e indústrias buscarem alternativas em países como China, Índia, Japão, Emirados Árabes (Dubai) e na União Europeia.
Segundo Guilherme Minssen, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), o mercado da carne será o primeiro a sentir os efeitos da tarifa. Frigoríficos em regiões como Castanhal, Paragominas e o sul do estado já reduziram abates, gerando risco de desemprego imediato.
“Tem bastante gente preocupada. Vai sobrar mercadoria nos portos, e os preços vão despencar. Estamos buscando socorro para os setores mais afetados”, disse Minssen, que aposta na China como alternativa, embora reconheça que o país asiático é um “negociador duro”, ciente das dificuldades dos exportadores brasileiros.
No setor pesqueiro, a preocupação é semelhante. O diretor técnico da Associação dos Produtores de Pescados da Amazônia Azul (ABRAPPAA), Eloy Araújo, afirmou que negociações com outros mercados já começaram, mas que a adaptação será lenta:
“Negócios internacionais não se abrem do dia para a noite, especialmente em volumes tão altos. Todas as possibilidades estão sendo estudadas, mas não é simples mudar de rota”, declarou.
Entre os produtores de açaí, o cenário é igualmente delicado. Emerson Menezes, da Associação dos Produtores de Açaí da Amazônia (Amaçaí), relatou que contêineres estão parados em portos e que agosto será decisivo para medir o impacto real do “tarifaço”.
“Negociações com Europa, Japão e Dubai já existem, mas ainda em volumes menores”, disse. Já Jhoy Gerald Rochinha Jr, da Associação da Cadeia Produtiva do Açaí de Belém (ACPAB), aposta na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém em novembro, como oportunidade de fechar novos acordos internacionais.
“A COP, com representantes de mais de 190 países, pode ser catalisadora para ampliar o comércio exterior do açaí. Mas ainda é preciso entender os impactos práticos da tarifa”, avaliou.
O setor madeireiro também está em alerta. Deryck Martins, diretor executivo da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Pará (Aimex), afirmou que o foco agora está na prospecção de mercados como China e Índia.
“Esperamos que o governo brasileiro atue para reverter ou ao menos atenuar a tarifa. Também é essencial que o estado, junto com as empresas, desenvolva estratégias para mitigar os impactos”, destacou.
Os setores aguardam medidas do governo federal e estadual para minimizar prejuízos e evitar que estoques parados e demissões em massa se tornem realidade no Pará.



