Em Belém, a pichação virou sinônimo de descaso, impunidade e degradação urbana. A cada nova obra entregue, seja uma praça, um mercado reformado ou uma fachada histórica restaurada com dinheiro público, o vandalismo não tarda a aparecer. E pior: há quem se orgulhe disso. Muitos dos que cometem esses atos se vangloriam nas redes sociais, exibindo suas “marcas” como troféus, como se atacar o bem coletivo fosse algum tipo de resistência ou expressão legítima.
É preciso deixar claro de uma vez por todas: pichação não é arte urbana. É crime. E como tal, precisa ser tratado. Os prejuízos causados pelas pichações são amplos. Além do custo de limpeza e restauração – pagos com o dinheiro do contribuinte –, há também o impacto estético e simbólico, sobretudo quando se trata de patrimônios históricos como a Ladeira do Castelo ou a Feira do Açaí. Não é só tinta em uma parede: é um desrespeito direto à memória, à cultura e à identidade da cidade.
Moradores também sofrem. Quantos já não tiveram as fachadas de suas casas depredadas? Quantos comerciantes precisam arcar, do próprio bolso, com a repintura de seus estabelecimentos porque algum “vândalo artístico” decidiu deixar sua assinatura em plena madrugada?
É preciso agir com firmeza. Quem picha espaço público ou privado deve ser responsabilizado. É hora de aplicar multas severas, fazer valer o Código Penal e, principalmente, não ter receio de expor os autores desses atos. A impunidade alimenta o ciclo.
Dito isso, é importante também fazer a devida distinção: grafite é arte. Uma expressão urbana legítima, criativa, que dialoga com o espaço público de forma construtiva. Ao contrário da pichação, que deteriora, o grafite valoriza. Prova disso são os viadutos da Região Metropolitana de Belém, que ganharam vida com murais produzidos por artistas locais — obras que embelezam, transmitem mensagens e transformam o cinza em cor.
O grafite pode — e deve — ser uma alternativa para revitalizar espaços urbanos, com diálogo, curadoria e responsabilidade. Em vez de muros pichados por vaidade e ego, podemos ter murais que expressem a diversidade, a história e a criatividade do povo paraense.
Belém não precisa de vandalismo. Belém precisa de arte, de respeito ao patrimônio e de uma política urbana firme contra a degradação.



