Dez anos após o naufrágio do navio Haidar, que transportava mais de 4.900 bois vivos no Porto de Vila do Conde, em Barcarena, a embarcação ainda está submersa no rio Pará. Mesmo assim, o governo federal, durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), pagou R$ 18,1 milhões a uma empresa contratada para retirar o navio — tarefa que nunca foi concluída.
As informações foram reveladas em reportagem da Folha de S.Paulo, publicada na última terça-feira (13). O contrato, no valor total de R$ 44,6 milhões, foi assinado em maio de 2019 pelo então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (atualmente governador de São Paulo). A empresa contratada, Superpesa Companhia de Transportes Especiais, com sede no Rio de Janeiro, estava em processo de recuperação judicial à época da contratação.
A responsabilidade pela execução do contrato foi repassada ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que, após constatar a ineficácia da operação de remoção e o descumprimento das obrigações contratuais, aplicou multa de mais de R$ 1 milhão à empresa em 2022. A Superpesa também foi suspensa de participar de novas licitações por dois meses.
Segundo o DNIT, a metodologia utilizada pela empresa era inadequada para verticalizar o navio — etapa fundamental para o deslocamento seguro da embarcação. Em nota, o órgão reconheceu que houve risco à administração pública e, por isso, instaurou processo de responsabilização.
A remoção do Haidar havia sido licenciada pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Pará, mas não foi finalizada. A Companhia Docas do Pará (CDP), que administra os portos do estado, disse que não teve gerência sobre o contrato e promete iniciar, em 2025, estudos para buscar uma solução definitiva.
O desastre ambiental ocorrido em 6 de outubro de 2015 causou grande impacto na costa amazônica. O vazamento de óleo diesel e a decomposição das carcaças dos animais afetaram praias, rios, ilhas e comunidades tradicionais. A Folha destaca que, embora um acordo firmado em 2018 tenha garantido uma indenização de R$ 10,65 milhões aos atingidos, esse valor é inferior ao que foi pago à empresa contratada para remover o navio.
Atualmente, uma nova ação judicial movida no Reino Unido busca reparação para cerca de 18 mil pessoas afetadas, incluindo pescadores artesanais, comerciais e moradores ribeirinhos. O valor pedido na ação é de 108 milhões de libras (aproximadamente R$ 810 milhões).
A Minerva Foods, dona da carga de bois, afirma que a responsabilidade pela remoção do navio é da empresa de transporte marítimo contratada pela administradora do porto. A companhia diz colaborar com as autoridades e já ter quitado sua parte no acordo firmado no Brasil.



