Uma área de floresta nativa na estrada da Maracacuera, em Icoaraci, distrito de Belém, foi invadida nesta semana, iniciando um processo de desmatamento que ameaça as fontes minerais e o ecossistema local. Segundo moradores, o muro que cercava o terreno foi destruído, permitindo a entrada de invasores que já iniciaram a construção de barracos e a derrubada de árvores, indicando o avanço de mais uma ocupação irregular.
Este episódio reforça os desafios habitacionais e ambientais da cidade, que, segundo o último levantamento do IBGE, ocupa a posição de capital com maior percentual de favelização do Brasil. Com 57,17% de sua população vivendo em áreas urbanas precarizadas, Belém enfrenta um grave déficit habitacional que expõe 745.140 pessoas a condições inadequadas de moradia e serviços básicos.
LEIA MAIS:
Desigualdade habitacional e crescimento desordenado: desafios para o desenvolvimento de Belém
O avanço de ocupações irregulares e o desmatamento refletem a precariedade da urbanização em Belém, que, apesar de estar prestes a receber a COP30 para debater temas ambientais globais, lida com problemas locais críticos como a expansão desordenada e a ausência de saneamento básico. A maior favela da cidade, a Baixada da Estrada Nova, abriga cerca de 15 mil famílias em condições de alagamento e falta de infraestrutura. Em toda a capital, estima-se que 16% da população ainda não tem acesso a rede de esgoto.
Jorge Tedson, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) no Pará, enfatiza a necessidade de que políticas habitacionais e urbanísticas incluam essas áreas vulneráveis. “Para conter a ocupação de áreas de risco e reduzir o impacto socioambiental, é preciso investir em programas habitacionais e fortalecer o planejamento urbano. Quem vive às margens dos igarapés enfrenta alagamentos constantes e carece de serviços essenciais”, pontua Tedson.
Programas habitacionais e urbanização sustentável como caminhos para o futuro
Em 2023, o projeto habitacional da Vila da Barca foi retomado como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), representando uma esperança para a comunidade, uma das mais antigas da capital. Porém, o número elevado de favelas na região Norte, especialmente em cidades como Ananindeua e Marituba, reforça a necessidade de investimentos mais amplos em moradia.
A retomada do programa “Minha Casa Minha Vida” é vista como um avanço, mas insuficiente frente ao cenário de Belém. “A transformação urbana precisa incluir as comunidades historicamente negligenciadas. Essa é a única maneira de combater o déficit habitacional e garantir qualidade de vida para todos os belenenses”, conclui Tedson.